Apologia de Sócrates
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O texto abaixo é apenas um resumo da obra de Platão, “Apologia de Sócrates”, considerada o segundo livro da tetralogia formada pelos seguintes diálogos: Eutífrone, onde vemos o filósofo, ainda livre, indo para o tribunal a fim de conhecer as acusações que lhe foram movidas pelo jovem Meleto; a Apologia, com a descrição do processo; o Críton, com a visita de seu amigo mais querido ao cárcere; o Fédon, com os últimos instantes de vida e o discurso sobre a imortalidade da alma.
[editar] Apologia de Sócrates
Sócrates começa a sua defesa advertindo que dirá unicamente a verdade e, ao mesmo tempo, afirmando que seus acusadores nada disseram de verdadeiro, embora tenham sido tão convincentes, que quase fizeram o próprio Sócrates crer que era culpado pelo que não fez. Demarca-se aqui a contraposição entre a sofística e a filosofia: Sócrates, representante maior desta na obra platônica, alega que, apesar de não ter a experiência de falar em tribunais e não dominar a retórica própria deste ambiente, pronunciará exclusivamente a verdade, sua preocupação como filósofo; seus denunciadores, ao contrário, não teriam compromisso com ela, mas apenas com a persuasão, com o uso da retórica para obtenção de seus interesses. O filósofo resgata as acusações que pesam sobre ele, desde as mais antigas, que não faziam parte do processo, mas poderiam influenciar a decisão dos juízes, até as mais recentes e oficiais. As denúncias que pesam contra Sócrates são a de não reconhecer os deuses que o Estado reconhece, de introduzir novos cultos, e, também, de corromper a juventude, pelo que receberia pena capital, caso fosse julgado culpado. Essa acusação é assinada por Meleto, que representa os poetas, mas não somente ele, também Ânito, representante dos políticos e artífices e Licon, ligado aos oradores, tendo os três o mesmo direito de palavra no desenvolvimento do processo.
Pouco se sabe sobre Meleto. Teria sido um tragediógrafo, cujos motivos para acusá-lo Sócrates alega desconhecer. Ânito é tido como o provável mentor do processo. Era um cidadão importante, pertencente a uma família de ricos comerciantes de curtumes, fora general a serviço de Atenas, durante a Guerra do Peloponeso. Destacou-se no cenário político ateniense por ser contra os Trinta Tiranos, ganhando simpatia por não pleitear recompensas pelos prejuízos econômicos, que sofrera durante a oligarquia. As razões que o levaram acusar Sócrates foram muitas, dentre elas, o relacionamento desaprovado de seu filho com o filósofo. Sobre Licon, pouco se sabe. Foi um orador relativamente afamado em Atenas, cujos motivos para a acusação Sócrates afirma desconhecer.
Em sua defesa, Sócrates, que atesta veementemente sua franqueza, busca um elemente que possa convencer os juízes de sua sabedoria. Menciona que o Oráculo de Delfos afirmou ser ele o homem mais sábio de sua época, o que explica como a busca pelo esclarecimento, inquirindo políticos, poetas e artífices.
Depois de ser julgado, enquanto aguarda a sentença, Sócrates volta à idéia de fazer o que pensa ser justo, mesmo que suas ações o levem à morte. Toma como exemplo Aquiles, que mesmo sabendo que seu ato iria levá-lo à morte, recusou-se a agir injustamente, vingando a morte de seu grande companheiro Pátroclo.
Ao ser julgado, Sócrates diz não estranhar a decisão, mas sim a razão dos votos contra (275) e a favor (281) da condenação, e a pequena diferença de apenas 6 votos. Afima que deveria fazer parte dos célebres que se encontram no Pritaneu, e lamenta as leis de Atenas que lhe concedem pouco tempo para sua defesa, em comparação a outras cidades em que a lei impede que uma pena de morte possa ser ditada em apenas um dia, e que por isso, seria impossível se desfazer de tantas acusações em tão pouco tempo. Sócrates declara ter sido condenado pela falta de pudor, mas não pela falta de argumentos, e afirma que não se arrepende da sua defesa, pois os que o condenam serão condenados mais tarde. Àqueles que votaram favoravelmente, diz serem justos como juízes. E pronuncia um discurso elogioso sobre a morte, destancando o desconhecimento que o homem tem de sua real natureza, e elencando as duas hipóteses: a da morte ser um sonho eterno e uma ausência de sentidos ou simples passagem para um outro mundo, regozijando-se com ambas.
E termina, afetando a necessidade de encurtar a sua defesa torpe: "Mas já é hora de nos retiramos, eu, para morrer, e vocês para viverem. Entre vocês e eu, quem está melhor? Isso é o que ninguém sabe, exceto Zeus."