Fernão Cardim
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Jesuíta português, nascido por volta de 1549, em Viana do Alentejo, e falecido em 1625, nos arredores de Salvador (Bahia), no Brasil.
Tendo entrado para a Companhia de Jesus em 1566, embarcou para o Brasil (1583) como secretário do visitador da Companhia, visitando as regiões que hoje pertencem os Estados da Bahia, Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Eleito, em 1598, procurador pela província do Brasil, voltou a Portugal.
Quando do seu regresso ao Brasil (1601), foi aprisionado pelo corsário inglês Francis Cook. Após a sua libertação, voltou ao Brasil (1604) como provincial da Companhia, cargo que desempenhou até 1609.
[editar] A obra
Sua obra, constituída por dois tratados e cartas, foi elaborada ao longo da década de 1580, quando desempenhava o cargo de secretário do padre visitador. Segundo a obra "Brasiliana da Biblioteca Nacional" pg. 28, sua obra "revela uma trajetória acidentada como a sua vida, dividida entre a Europa e o Brasil. Os seus três tratados só vieram a lume, juntos pela primeira vez, em pleno século XX, denominados de "Tratados da Terra e da Gente do Brasil" pelos esforços de Afrânio Peixoto, a partir do trabalho pioneiro que empreendera o nunca assaz louvado Capistrano de Abreu". Considera o mesmo autor que "a obra de Fernão Cardim, apesar de pequena, é extremamente significativa pelo que podemos acompanhar dos relatos, entre o histórico e o etnológico, sobre a realidade geográfica e humana do Brasil."
"Os seus dois primeiros textos, "Do clima e terra do Brasil" e "Do princípio e origem dos índios do Brasil", foram publicados inicialmente em inglês, na coleção dirigida por Samuel Purchas, em Londres, 1623. O terceiro, a "Narrativa epistolar de uma viagem e missão jesuítica", foi publicado em Lisboa em 1847 pelo abnegado Francisco Adolfo de Varnhagen. Nesse texto, como testemunha presencial da realidade quinhentista do Brasil, Cardim se encanta com a fauna e a flora do país a ponto de exagerar em muitas descrições, sempre com muito amor pelo país que escolheu para missionar. A fácil adaptação dos animais e árvores transplantados para o nosso país fez com que o jesuíta realçasse a grandiosidade da natureza: ´Este Brasil já é outro Portugal, e não falando no clima que é muito mais temperado e saio, sem calmas grandes, nem frios, e donde os homens vivem muito com poucas doenças.´ Já ressaltou Rodolfo Garcia: ´o que, porém, nesses escritos verdadeiramente nos encanta é a nota de constante bom humor de que estão impregnados, a vivacidade da narrativa, a graça das comparações (...) ou quando diz que o rosto da preguiça parece de mulher mal toucada."
Fernão Cardim, que viveu no hemisfério sul, deixou dois escritos de pouco tomo, pelos quais tem sido, a meu ver impertinentemente, incluído na história da literatura portuguesa como um dos seus primitivos escritores. Menores são ainda que os de Gabriel Soares de Sousa os seus títulos a pertencer à nossa literatura.
A todos os respeitos mais considerável e melhor dos seus dois escritos são duas cartas que desde o Brasil endereçou ao Provincial da Companhia em Portugal, recontando-lhe, miudamente, e de modo verdadeiramente interessante, uma viagem de inspeção jesuítica por algumas de nossas capitanias. Varnhagen, que as descobriu, publicou-as em 1847 com o título factício de "Narrativa epistolar de uma viagem e missão jesuítica pela Bahia, Ilhéus, Porto Seguro, Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, etc., desde o ano de 1583 ao de 1590".
Embora documento interessantíssimo para o estudo das missões jesuíticas e da mesma vida colonial no primeiro século, não tem a obra de Fernão Cardim, se obra se lhe pode chamar, o interesse bem mais geral, a importância e a valia da de Gabriel Soares de Sousa. Sua inclusão na literatura portuguesa é tão legítima como o seria a de toda a correspondência jesuítica daqui desde Nóbrega até o padre Antônio Vieira, e ainda além. No desenvolvimento da nossa literatura não teve esta de Fernão Cardim sequer a parte que é lícito atribuir à de Gabriel Soares de Sousa, pelo que desta aproveitaram os posteriores autores brasileiros.
Outro escrito que se lhe imputa com fundados motivos mas sem absoluta certeza é a monografia, como lhe chamaríamos hoje, "Do princípio e origem dos índios do Brasil e dos seus costumes, adorações e cerimônias", título também factício.
[editar] Bibliografia
- "Treatise of Brasil written by a Portugall which Had Long Lived There" V. Purchas his Pilgrimes, IV - 1289-1320. In Haklvytus posthumus or Purchas his Pilgrimes, contayning a History of the World, in Sea voyages & Lande Trauells, by Englishmen & others... By Samuel Pvrchas. Imprinted at London for Henry Fetherston, 1625 - 5 vols. Primeira ediç]ao de um dos tratados do jesuíta que teve seus textos sequestrados por corsários ingleses.
[editar] Referências
- Este artigo incorpora texto do livro História da Literatura Brasileira, de José Veríssimo, obra que está em domínio público.
- "Brasiliana da Biblioteca Nacional", Rio de Janeiro, 2001.