Adenor Gondim
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Adenor Gondim - fotógrafo - fez um vasto trabalho fotográfico sobre a cidade de Cachoeira na Bahia e sobre a Irmandade da Boa Morte, suas festas e procissões.
Por Elen Vila Nova
Ao contrário de suas fotografias, o olhar de Adenor Gondim não se revela em um primeiro instante. Quando não por detrás das objetivas, um par de óculos de grau protege o principal instrumento deste baiano de carteirinha. Através da moldura de arame, Adenor vê o mundo. Através de suas fotos, nós vemos o mundo de Adenor.
Com o pai, também fotógrafo, aprendeu o ofício. Em Rui Barbosa (interior do estado), menino, apenas sete anos, dividia as obrigações da bola, da pipa e das gudes com o serviço de fotografar. Presenciou e registrou, assim, grandes acontecimentos principalmente de ordem familiar: batizados, casamentos, aniversários. Eram experiências de criança e já as primeiras como fotógrafo. Lembranças que ficaram e ajudam a compor o mosaico que esta pessoa é. "Quem? Adenor? Eu não conheço esse cara. É uma colcha de retalhos que venho pegando aqui e acolá, tentando entender." Assim se explica, assim se entende.
E, para ele, nada melhor para se entender do que o ato de fotografar que, em uma alusão ao ato religioso, compara a uma prece. Encarando-o, então, como um ato de envolvimento, Adenor defende ser este um momento emocional em que o mais importante não é o resultado. Caso perde um filme lamenta, é claro que lamenta, porém, menos por si e mais pelos outros que não terão a oportunidade de ver o que ele viu. É que o dele já está faturado no simples ato de fotografar.
E foi fotografando que Adenor começou a entender a vida. Com o 3x4 aprendeu a ver as pessoas. Junto com os caminhões de pau-de-arara que vinham do Ceará em direção a mais nova capital da república, chegavam à Rui Barbosa centenas de pessoas. Com a esperança de uma nova vida na cidade idealizada por Juscelino Kubistchek, os migrantes precisavam do documento que burocratizava o sonho do bom emprego: a carteira profissional. E Adenor Gondim ajudava a diminuir a burocracia com a sua máquina em punho que descobria pessoas, decodificava rostos, registrava traços que contavam histórias. O exercício do aprendiz de fotógrafo estava em buscar a imagem que acreditava ser a daquela pessoa. "Buscava, na realidade a minha imagem da pessoa", sentencia.
Até quando o 3x4 dava literalmente para o gasto, Adenor continuou fazendo este trabalho. Mas assim como os migrantes do pau-de-arara, ele também fez suas incursões pela Bahia e, passando por Itabuna, veio parar em Salvador. Na capital do estado virou universitário, estudou biologia, viveu a época de finalzinho de ditadura; a cidade fervilhava de idéias. O seu olhar de fotógrafo, atento, registrava tudo o que somente uma objetiva não podia dar conta. "Há momentos em que a emoção não cabe no retangulozinho".
Com sua juventude e uma 35mm na mão, desvendou um mundo desfocado, mas seu. E o seu mundo era, mais e mais, de uma fotografia que traduzia uma espécie de auto-retrato de seu feitor por todos os ângulos. No tema que se escolhe, no que recorte que se dá, no fragmento que se pega, na vontade de grafar com luz aquilo e não isto. Trata-se da imparcialidade que inexiste, do conceito pré-concebido no ato da escolha que é capaz de revelar quem somos. E o resultado, as fotos, revelam como vemos o mundo ou o que vemos no mundo.
E Adenor Gondim gostou de ver o que certas pessoas viam no mundo, ou melhor, do que certos baianos viam na Bahia e no que esta tem de místico: a religiosidade. Costurando sua temática em torno do relacionamento humano com o sagrado, o fotógrafo apreciou rituais como a Romaria de Bom Jesus da Lapa e a Irmandade da Boa Morte.