Anton Pavlovitch Tchékhov
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Anton Pavlovitch Tchékhov, em alfabeto cirílico Анто́н Па́влович Че́хов, (Taganrog, 29 de Janeiro de 1860 — Badenweiler, 14 de Julho ou 15 de Julho de 1904) foi um importante escritor e dramaturgo russo, considerado um dos mestres do conto moderno. Era também médico, exercendo a Medicina durante o dia e frequentemente escrevendo à noite.
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[editar] Infância em Taganrog
Era filho de Pavel Egorovic Cechov e de Evgenija Jakovlevna. Teve quatro irmãos, Aleksandr (1855), Nikolaj (1858), mais velhos, Ivan (1861), Michail (1865) e uma irmã, Marija (1863). Uma segunda irmã nascida em 1869, Evgenija morreu com dois anos de idade.
As origens da família são humildes. O avô de Cechov, Egor Cechov, foi um servo que comprou a sua liberdade do Kreopostnoje Pravo. Pavel tinha então dezesseis anos.
Pavel Cechov fez um estágio de três anos num comerciante. Tornou-se depois servente e contabilista. Em 1857 tornou-se dono de uma mercearia. Comprou por um bom preço mas num momento inoportuno. A Guerra da Criméia tinha sido perdida e como consequência tinha sido imposta a desmilitarização do Mar Negro, pelo que os marinheiros e militares que tinham sido os principais clientes até então, tinham deixado estas paragens.
A mercearia do pai tinha um pequeno bar, tolerado pelas autoridades.
Numa carta de 1889 ao seu irmão Aleksandr, Anton Cechov resume a sua infância na seguinte frase, plena de ironia: "Filho de um servo, ... servente de loja, cantor na igreja, estudante do liceu e da Universidade, educado para a reverência de superiores e para beijos de mão, para se curvar perante os pensamentos alheios, para a gratidão por qualquer pequeno pedaço de pão, muitas vezes sovado, indo à escola sem galochas".
O pai, marcado pelo estigma de um ex-servo, educou os filhos de forma autocrática, habituando-os a obedecer. Deu-lhes no entanto o acesso à educação. Possibilitou aos filhos a frequência de um dos melhores liceus da cidade. Tiveram aulas de música e francês.
Anton foi acólito. No entanto, pouco lhe ficou da inspiração religiosa (que a propósito era muito marcante no pai, dirigente do coro da Igreja). Como Anton disse a este respeito: "o coração está como que varrido".
Na escola, Cechov não foi um bom aluno. Chegou a reprovar. Um padre que lhe deu aulas de religião chamava-o com menosprezo de "Cech" onte (cech significa servo). A mensagem: tu não passas de filho de servo. Mais tarde, quando publicava os primeiros contos em jornais, Cechov usou o pseudónimo "Antosa Cechonte" com ironia.
A partir dos seus treze anos, ficou fascinado pelo teatro da cidade, que dado o pouco dinheiro que tinha não frequentava tantas vezes como queria. Como era proibida a entrada a crianças não acompanhadas de adultos e sem a autorização do liceu, chegou a "disfarçar-se" de adulto, usando uma barba postiça.
[editar] Crise familiar nos anos pós 1874
Em 1874, Pavel, o pai de Anton, decide comprar uma casa maior. Ao mesmo tempo alugou uma segunda loja. O seu desejo de ascensão social suplantou a sua prudência económica. Suas dívidas cresceram e em breve ficou incapaz de as pagar. Em Abril de 1877 esteve quase a ser preso. Pavel fugiu ilegalmente para Moscovo, onde os filhos Aleksandr e Nikolaj estudavam. A esposa ficou para vender a casa e pagar as dívidas. Depois juntou-se ao marido em Moscovo. Anton (17 anos de idade) e Michail (16) ficaram em Taganrog, para acabar o liceu. Michail foi depois para Moscovo, enquanto que Anton ficou em Taganrog, onde deu aulas particulares para ganhar dinheiro (o que ele relatou depois num conto). Passou dois anos e meio, sozinho em Taganrog. A mãe escreveu-lhe de Moscovo: "vende a cómoda e as coisas, depressa, não nos deixes morrer de angústia!". Suas leituras nesta fase da sua vida eram Shakespeare, Cervantes, Victor Hugo, Ivan Turgeniev, Goncarov, Harriet Beecher Stowe, Friedrich Spielhagen e Leon Tolstoi. Em 1876, tinha sido inaugurada a primeira biblioteca pública em Taganrog. As notas de Anton no liceu melhoraram nos anos em que viveu sozinho. A 27 de Junho de 1879 concluiu o liceu.
[editar] Moscovo
Em Agosto de 1879, beneficiando de um subsídio de 25 rublos mensais da cidade de Taganrog, Anton Cechov vai para Moscovo, onde reencontra a família. A família encontra-se numa situação financeira precária. O pai está desempregado há meses, a família tem sempre dificuldades em pagar a a renda da casa e foi forçada a mudar de casa 12 vezes entre 1876 e 1879. Meses depois da chegada de Anton, o pai encontra um emprego nos arredores de Moscovo e para a sua felicidade é-lhe dada a oportunidade de dormir no local de trabalho, o que alivia a casa onde a família vive, absolutamente a abarrotar. O pai vem apenas aos fins de semana visitar a família. Anton partilha durante os seus estudos, o seu quarto de dormir com os irmãos Nicolai e Michail.
[editar] Produção literária
Em 1880, Tchekov envia um drama, escrito nos últimos tempos em Taganrog, com o título "os sem-pai", também conhecido como o "Platonov" (nome da figura central) a uma famosa actriz de teatro em Moscovo, Marija Ermolova, que o devolveu sem comentários. Depois disso, Tchekov desistiu de tentar trazer uma encenação do drama para o palco.
Anton Tchekov estudou Medicina, tendo-se licenciado em Maio de 1884. Já mesmo durante os seus estudos (que duraram 4 anos e meio) publicou centenas de artigos em vários jornais e revistas das metrópoles russas (Moscovo e São Petersburgo). Ele dependia desta fonte de receitas para se sustentar a si e a sua família. Entre os jornais e revistas onde publicou encontram-se o Budilnik, Strekoza, Zritel, Svet i teni, Svertcok ou o Sputnik. A partir de 1882 publicou também no Oskolski.
Em Março de 1888 surge publicado na revista Severnyi vestnik o seu romance A estepe.
Em 1889, os sintomas da tuberculose agravaram-se, fazendo-o mais pessimista sobre o seu estado de saúde. Em junho desse ano morre o seu irmão Nikolaj, vítima de tifo e tuberculose, possivelmente infectado pelo irmão. Anton Cechov sentiu remorsos por não ter estado presente nos últimos dias de vida do irmão. Em Junho, o irmão Aleksandr chegou e rendeu-o na vigília ao irmão, tendo Anton decidido fazer uma viagem com os amigos até Poltava. Fugiu da mesma morte que o esperava, assim o descreveu.
Após o enterro do irmão, ("a nossa família viu um caixão pela primeira vez") decidiu iniciar uma viagem sem rumo. Vive em viagem permanente nos meses seguintes. Em janeiro de 1890 escreve à família que tenciona viajar até à distante Sacalina, a ilha do desterro, no longínquo leste da Rússia. A família fica estupefacta.
[editar] Viagem a Sacalina
Após meses de preparação, Cechov partiu em 21 de Abril de 1890 para a longa viagem. Suvorin deu-lhe um "avanço" de 1500 rublos para a viagem. A 11 de Julho de 1890 chega finalmente a Fort Aleksandrovsk, na Ilha Sacalina. Passou dois meses no norte da ilha e três meses no sul da mesma. Quis conhecer as gentes da ilha, fez quase mesmo um levantamento das visitas que fazia, escrevendo notas em cerca de 10.000 cartões individuais, um trabalho exaustivo. A ilha Sacalina era usada como zona de desterro, tal como muitos territórios na Sibéria. A partir de 1860, o número de "criminosos" (incluindo por "delitos" políticos) enviados para a Sibéria era de cerca de 20.000 por ano. Entre os desterrados inclui-se o amigo de Tchecov, Vladimir Korolenko, um escritor, que foi enviado para a Sibéria pela polícia, sem qualquer julgamento. A 13 de Outubro parte para Vladivostok. Um mês depois, chega à ilha de Ceilão. A 1 de Novembro chega a Odessa. A 8 de Dezembro está de regresso a Moscovo. Traz dois mangustos na bagagem.
[editar] Novamente em Moscovo
Em 1891, escreve O duelo, que é publicado no "Novo tempo" de Suvorin, por capítulos. Neste livro, fluíram as impressões que Cechov teve das conversas que teve com um zoólogo nas férias de Verão desse ano em Bogimovo, perto de Aleksin. Vladimir Vagner, recém-licenciado em zoologia, e um defensor do social-Darwinismo, do direito dos mais fortes, da seleção social.
O Verão de 1891 foi particularmente seco no leste da Rússia, contribuindo para uma onda de fome. Tchecov mobilizou-se pessoalmente para combater a catástrofe, contribuindo directamente com os honorários do conto "A minha mulher", participando nas campanhas de recolha de fundos. Em Janeiro de 1892, viajou até Niznij Novgorov, uma cidade afectada. Relatou as suas vivências na imprensa, contribuindo para o debate sobre a catástrofe e a necessidade de reunir fundos para as vítimas.
[editar] A casa de Melichovo
Em 1892, Tchekhov decidiu instalar-se com parte da família numa quinta em Melichovo, 60 kms a sul de Moscovo. A ideia já era um sonho desde a década de 1880, mas em 1892 Tchekhov dispunha do dinheiro necessário, que resultava em parte das primeiras encenações. O acesso à quinta a partir de Moscovo era razoável: uma hora e meia de viagem em combóio até Lopasnja e uma hora de carroça a partir dali.
A compra da quinta foi um mau negócio, gastou 13 000 rublos, mais do dobro do que pretendia gastar inicialmente. O anterior dono, um pintor, aproveitou-se da ocasião. Tchecov passa a ter agora uma casa, 60 cerejeiras e 80 macieiras e pode saborear aquilo que desejava: a vida no campo. Tornou-se um elemento bem-vindo na comunidade dos lavradores das redondezas, em especial por ser médico e praticar a profissão sem exigir pagamento.
Entre as muitas visitas na nova casa conta-se Lidija Mizinova com quem Tchecov teve uma relação afectiva mais ou menos íntima e mais ou menos passageira. Foi uma figura inspiradora de personagens de suas obras.
No Verão de 1892 grassa agora uma epidemia de cólera na Rússia. Como no passado, Tchecov mobiliza-se na angariação de fundos ("mostrei-me um bom mendigo"), participa na construção de barracas para a quarentena, trabalhou na administração local. Felizmente, porém, Melichovo não foi afectada pela cólera.
Em 1893 volta a surgir a cólera. Tchecov volta a mobilizar-se, participando em campanhas de informação sanitária e trabalhando como médico. Foi membro da zemstvo local.
Em 1894 faz uma viagem pela Europa ocidental.
A partir de 1895 Tchecov comprou livros para oferecer à biblioteca de sua terra natal, Taganrog. Uma prática que ele manterá nos próximos anos. Mesmo em viagem pela Europa lembrou-se de comprar livros para a bibliioteca da sua terra.
O seu envolvimento na comunidade local mantém-se muito activo nos anos seguintes. Em 1894 torna-se membro da zemstvo de Serpuchov. Em Dezembro desse ano torna-se curador de uma escola em Talez. Em 1896 financia pelos seus próprios meios a construção de uma nova escola em Talez. Em 1897 é a vez de financiar a construção da escola numa aldeia chamada Novoselki. Apoia também uma sociedade de beneficência que trata de pacientes que receberam alta dos hospitais. Ainda em 1897 torna-se também curador da escola da aldeia de Cirkovskoje.
[editar] Desprezo pelos Narodniks
Em 1896 surge o romance "a minha vida", em 1897 "os camponeses". São obras que testemunham a ruptura com as visões utópicas e românticas tão comuns nestes anos na Rússia: o ideal da vida no campo faz alguns intelectuais russos, os Narodniks, premonitores da revolução soviética, sonhar com uma saída para todos os problemas: o regresso ao passado, o regresso à agricultura. Tchecov, que vive ele próprio no campo e assiste à vida rural in loco, tem acesso a uma perspectiva que a elite intelectual das cidades não adivinha: alcoolismo, ignorância, brutalidade, maldade. Para Tchechov os homens do campo não são nenhum modelo, ao contrário do que um Leon Tolstoi possa pensar.
Esta visão, contrária aos ideiais da maioria da "intelectualidade" russa, espelhada naquelas obras, irá tornar Tchecov impopular. Michajlovski acusa Tchecov de falsificar a (gloriosa) vida dos camponeses devido à sua ignorância.
[editar] Sucessos
Após a produção com êxito de "A Gaivota" pelo teatro de arte de Moscou, escreveu três outras peças para a mesma companhia: "O Tio Vânia", "As três irmãs", e "O pomar de cerejas" (traduzido em Portugal como "O Ginjal").
Em 1901, casou com Olga Leonardovna Knipper (1870-1959), uma actriz que foi intérprete nas suas peças.
A influência do naturalismo no teatro que se fazia sentir por toda a Europa atingiu o seu expoente artístico na Rússia em 1898 com a formação do Teatro Artístico de Moscou (mais tarde chamado de Teatro da Academia das Artes de Moscou). O seu nome tornou-se um sinónimo de Tchekhov, cujas peças acerca da vida quotidiana da aristocracia possuidora de terras adquiriram um delicado realismo poético que estava anos à frente do seu tempo. Konstantin Stanislavsky, o director do teatro, tornou-se porventura o mais importante teórico da arte de representar do século XX.
Chekhov visitou a Europa Ocidental na companhia de A.S. Suvorin, um rico proprietário de um jornal e o editor de muitos dos trabalhos de Chekhov. A sua longa e íntima amizade foi motivo de alguma impopularidade para Chekhov, uma vez que o jornal de Suvorin, Novoye vremya (O novo tempo) era tido por muitos dos russos como de carácter conservador e reaccionário. Chekhov acabou por cortar relações com Suvorin por causa da posição do jornal em relação ao Caso Alfred Dreyfus em França, tendo Chekhov sido um defensor de Dreyfus.
Chekhov morreu vítima da tuberculose. Foi sepultado no cemitério Novodevichy.
[editar] Obra
Seus livros mais conhecidos são: Contos e narrativas, Um duelo, A Estepe, A Minha Vida, A sala número seis, Uma história sem importância. Escreveu para o teatro, primeiramente a farsa, depois o drama. Entre as suas peças, destacam-se: A Gaivota, Tio Vânia, As três irmãs, O canto do cisne, Um trágico à força, Ivanov, etc. Um de seus contos mais conhecidos é A dama do cachorrinho, de 1899.
[editar] Ligações externas
- O sítio oficial do Taganrog, a cidade natal de Anton Tchekhov
- Biografia (curta)
- Notas biográficas sobre Anton Tchecov, em português do Brasil