Carro de boi
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O Carro de boi é um dos mais primitivos e simples meios de transporte, ainda em uso nos meios rurais, utilizado para o transporte de cargas (produtos agrícolas) e pessoas.
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[editar] Na História
Rio Grande do Sul (1839) – travava-se a Guerra dos Farrapos. Tudo acertado para a invasão de Santa Catarina. Os revolucionários – de um lado Davi Canabarro chefiava as tropas de terra. Do outro, Giuseppe Garibaldi daria cobertura por mar, atacando os portos da província. Um problema, porém, precisava ser solucionado: os dois lanchões da frota revolucionária estavam imobilizados na foz do rio Capivari. Como a Lagoa dos Patos estava interceptada pela esquadra da União, restava a Garibaldi a saída por terra mas, sem os lanchões a tomada da província era impraticável. A solução veio pelas mãos do mestre Joaquim de Abreu, “carpinteiro de ofício e revolucionário por convicção”, preparou dois estrados de vigamento reforçado, aparelhou troncos em formato de eixos e o resultado: dois carretões pesando 12 e 18 toneladas, respectivamente. As 50 juntas de bois atreladas a cada carretão, após seis dias de marcha, transportaram os barcos até o rio Tramandaí. A façanha não bastou para vencer a revolução: a causa farroupilha acabou sendo derrotada, mas constitui um capítulo na história do carro de bois.
“Boeiro” em Portugal, “carreta” nos pampas gaúchos e “cambona” em algumas regiões do interior do Brasil, o carro de bois já era conhecido dos chineses e hindus. Também os egípcios, babilônios, hebreus e fenícios utilizavam o transporte “via bois”. Mais tarde, os europeus, quando se lançaram à colonização da África e da América, fizeram do boi um item indispensável da carga das caravelas.
Tomé de Sousa – primeiro governador-geral do Brasil – trouxe consigo carpinteiros e carreiros práticos e, em 1549, já se ouvia o “cantador” nas ruas da nascente cidade de Salvador. A presença do carro de bois também é mencionada no “Diálogo das Grandezas do Brasil”, de Ambrósio Fernandes Brandão (segundo Capistrano de Abreu, páginas 38 e 64, 1956): “É necessário que tenha (...), 15 ou 20 juntas de bois com seus carros necessários aparelhados (...)”, e mais adiante, “A vaca, sendo boa, é estimada a (...), e o novilho, que serve já para se poder meter em carro, a seis e a sete mil réis (...)”.
Nos primeiros tempos da colonização, além de manter em movimento a indústria açucareira - da roça ao engenho, do engenho às cidades, o carro de bois mobilizava a maior parte do transporte terrestre durante os séculos XVI e XVII. Transportavam materiais de construção para o interior e voltavam para o litoral carregados com pau-brasil e produtos agrícolas produzidos nas lavouras interioranas. No Brasil colonial, além dos fretes, o carro de bois conduzia famílias de um povoado para outro – muitas vezes transformado em “carro-fúnebre” e os carreiros precisavam lubrificar os cocões para evitar a cantoria em hora imprópria.
No início do século XVI, o carro de bois era ainda absoluto no transporte de carga e de gente. No Sul, no Centro, no Nordeste, era indispensável nas fazendas. No Rio Grande do Sul as carretas conduziam para a Argentina e para o Uruguai a produção agrícola. Na Guerra do Paraguai, os carretões transportaram munições, víveres e serviram ainda como ambulâncias.
Em meados do [século XVIII]], entretanto, com o aparecimento da tropa de burros, o carro de bois perdeu sua primazia. Mais leves e mais rápidos, os muares não exigiam trilhas prévias e terrenos regulares. No final do século, vieram os cavalos para puxar carros, carroças e carruagens, e o carro de bois foi proibido por lei de transitar no centro das cidades, ficando o seu uso restrito ao meio rural.
Os veículos motorizados aceleraram o processo de decadência do carro de bois no Brasil, na Argentina, em Portugal, na Espanha, na Grécia, na Turquia, no Irã, na Indonésia e na Malásia. Contudo, em todos esses lugares, artesãos continuaram a construí-los e a aperfeiçoá-los e, graças a essa gente, o carro de bois persiste na sua marcha pela história.
[editar] No Brasil
Introduzido pelos colonizadores portugueses, o carro de boi difundiu-se por todo o país, existindo ainda no meio rural nordestino.
O carro de boi foi um dos principais meios de transporte utilizados para transportar a produção das fazendas para as cidades, mas ainda é utilizado em algumas regiões do país.
Em alguns municípios, como em algumas regiões do interior brasileiro, ainda há fazendeiros que realizam mutirões de carros de bois para transportar suas produções agrícolas e também outros produtos. O som estridente característico do carro de bois, chamado de canto, lamento ou gemido, também faz parte da nossa cultura.
Dotado de uma estrutura que não possui o diferencial, suas rodas travam durante as curvas. Quando em movimento, o autêntico carro de bois emite um som estridente característico - o cantador - que anuncia a sua passagem.
[editar] Partes do carro de boi
Algumas das partes do carro de boi (fonte:Dicionário de Caetitenês, de André Koehne):
- arreia: as tábuas da mesa;
- cabeçalho: a longa trave que liga o corpo do carro ao qual se atrelam os bois;
- cantadeira ou chumaço: peça com a parte inferior em forma de V invertido, onde se encaixa o eixo da roda e que produz o som característico;
- cheda: Prancha lateral do leito do carro de bois, na qual se metem os fueiros;
- cocão: parte do eixo que se encaixa na cantadeira;
- fueiro: cada uma das estacas de madeira que servem para prender a carga no carro;
- mesa: a superfície onde se coloca a carga;
- tambueiro: gancho de madeira que é colocado no pescoço do boi e é preso pela brocha;
[editar] Festivais do carro de boi
Por seu valor cultural, o carro de boi é homenageado em diversos festivais e encontros, onde se reúnem os últimos usuários e colecionadores desse meio de transporte rústico e simbólico do meio rural brasileiro.
Em Minas Gerais, são conhecidos os festivais de carro de boi de Formiga, Bambuí, Ibertioga, Desterro de Entre Rios e Vazante.
[editar] Na arte
O carro de boi é um elemento referencial, na intervenção feita no Solar do Unhão, atual sede do Museu de Arte Moderna da Bahia, pela arquiteta Lina Bo Bardi: uma escada de madeira, interna, foi toda ela feita seu uso de parafusos ou pregos - tal como no carro.
A música sertaneja, com sua pioneira dupla Tonico e Tinoco, junto a Anacleto Rosas Jr., compôs a canção Boi de Carro, onde traçam um paralelo ao boi já velho com o trabalhador que avança na idade...
[editar] Ver também
[editar] Ligações externas
- site sobre o carro de boi (inclusive com o "canto" peculiar)
- O Carro de Bois e o Jugo
Carro de boi lembranças:
[http://www.overmundo.com.br/overblog/carro-de-boi-lembrancas ]
[editar] Referência
- Conhecer, Volume III: “Os Cantadores de Rodas”, pp. 721 a 723, Editora Abril Cultural Ltda, (1967).