Modo narrativo
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Esta página precisa ser reciclada de acordo com o livro de estilo. Sinta-se livre para editá-la para que esta possa atingir um nível de qualidade superior. |
Aristóteles divide os modos da escrita literária, em sua Poética, entre o épico, o lírico e o dramático. A teoria da literatura, com o passar do tempo e o advento e popularização do romance enquanto gênero derivado do épico, mudou para a tríade Modo Narrativo, modo lírico e modo dramático (REIS, 2003). A narrativa é também um dos três modos básicos de redação, sendo os outros a descrição e a dissertação.
Basicamente narrar é contar uma história com uma clara linha do tempo. Para tanto, conta-se com personagens, cenários, conflitos, cenas. O estudo da narrativa e destes elementos é chamado de narratologia, comumente associado ao estruturalismo mas com referências na Poética grega e no formalismo russo.
A narrativa literária costuma se apresentar em forma de prosa, mas pode ser também em versos (Epopéia, Romanceiros). Se tivermos de definir o texto narrativo de forma sucinta, citando Carlos Reis diremos que o texto narrativo é um processo de exteriorização, uma atitude objetiva e baseada na sucessividade.
No século XX, a partir do estruturalismo, surgirá uma espécie de teoria semiótica da narrativa (ou narratologia) que propõe-se estudar a narratividade em geral (romances, contos, filmes, espetáculos, mitos, anedotas, canções, músicas, vídeos). Encabeçados por Roland Barthes, estes estudos pretendem encontrar uma "gramática" da narrativa, mais ou menos como Saussure encontrara para a fala. É a partir daí que surgem as fichas de leitura e os estudos sobre o narrador, os actantes, as estratégias narrativas de determinada escola, entre outros.
Roland Barthes, mestre no estudo da narrativa, afirma que "a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades, começa com a própria história da humanidade. (...) é fruto do génio do narrador ou possui em comum com outras narrativas uma estrutura acessível à análise".
Índice |
[editar] Acção
A acção é o conjunto de acontecimentos que se desenrolam num determinado espaço e tempo. Aristóteles, em sua Poética, já afirmava que "sem acção não poderia haver tragédia". Sem dificuldade se estende o termo tragédia à narração, e assim a presença de acção é o primeiro elemento essencial ao texto narrativo.
[editar] Estrutura da Narração
A acção da narrativa é constituida por três acções: Intriga, Acção principal e Acção secundária.
- Intriga: Acção considerada como um conjunto de acontecimentos que se sucedem, segundo um princípio de casualidade, com vista a um desenlace. A intriga é uma acção fechada.
- Acção principal: Integra o conjunto de sequências narrativas que detêm maior importância ou relevo.
- Acção secundária: A sua importância define-se em relação à principal, de que depende, por vezes; relata acontecimentos de menor relevo.
[editar] Sequência
A acção é constituida por um número variável de sequências (segmentos narrativos com princípio, meio e fim), que podem aparecer articuladas dos seguintes modos:
- Encadeamento ou organização por ordem cronológica
- Encaixe, em que uma acção é introduzida numa outra que estava a ser narrada e que depois se retoma
- Alternância, em que várias histórias ou sequências vão sendo narradas alternadamente
pela forma que foi escrita esse eu lirico deve ser mais abrangente de forma que o leitor se familiarize com a leitura.
A ação pode dividir-se em:
- Apresentação ― é o momento do texto em que o narrador apresenta os personagens, o cenário, o tempo, etc. Nesse momento ele situa o leitor nos acontecimentos (fatos).
- Desenvolvimento ― é nesse momento que se inicia o conflito (a oposição entre duas forças ou dois personagens). A paz inicial é quebrada através do conflito para que a ação, através dos fatos, se desenvolva.
- Clímax ― momento de maior intensidade dramática da narrativa. É nesse momento que o conflito fica insustentável, algo tem de ser feito para que a situação se resolva.
- Desfecho ― é como os fatos (situação) se resolvem no final da narrativa. Pode ou não apresentar a resolução do conflito.
[editar] Tempo
- Tempo cronológico ou tempo da história - determinado pela sucessão cronológica dos acontecimentos narrados.
- Tempo histórico - refere-se à época ou momento histórico em que a acção se desenrola.
- Tempo psicológico - é um tempo subjectivo, vivido ou sentido pela personagem, que flui em consonância com o seu estado de espírito.
- Tempo do discurso - resulta do tratamento ou elaboração do tempo da história pelo narrador. Este pode escolher narrar os acontecimentos:
- por ordem linear
- com alteração da ordem temporal (anacronia), recorrendo à analepse (recuo a acontecimentos passados) ou à prolepse (antecipação de acontecimentos futuros);
- ao ritmo dos acontecimentos (isocronia), como, por exemplo, na cena dialogada;
- a um ritmo diferente (anisocronia), recorrendo ao resumo ou sumário (condensação dos acontecimentos), à elipse (omissão de acontecimentos) e à pausa (interrupção da história para dar lugar a descrições ou divagações).
[editar] Personagens
Roland Barthes, além de retomar a importância que os clássicos davam à acção, avança ao afirmar que “não existe uma só narrativa no mundo sem personagens”. Aqui se entende personagem não como pessoas, seres humanos. Um animal pode ser personagem (Revolução dos Bichos), a morte pode ser personagem (As intermitências da morte), uma cidade decadente ou uma caneta caindo podem ser personagens, desde que estejam num espaço e praticando uma ação, ainda que involuntária.
[editar] Relevo das personagens
- Protagonista, personagem principal ou herói: desempenha um papel central, a sua actuação é fundamental para o desenvolvimento da acção.
- Personagem secundária: assume um papel de menor relevo que o protagonista, sendo ainda importante para o desenrolar da acção.
- Figurante: tem um papel irrelevante no desenrolar da acção, cabendo-lhe, no entanto, o papel de ilustrar um ambiente ou um espaço social de que é representante.
[editar] Composição
- Personagem modelada ou redonda ou esférica: dinâmica, dotada de densidade psicológica, capaz de alterar o seu comportamento e, por conseguinte, de evoluir ao longo da narrativa.
- Personagem plana ou desenhada: estática, sem evolução, sem grande vida interior; por outras palavras: a personagem plana comporta-se da mesma forma previsível ao longo de toda a narrativa.
- Personagem-tipo: representra um grupo profissional ou social.
- Personagem colectiva: Representa um grupo de indivíduos que age como se os animasse uma só vontade.
[editar] Caracterização
- Directa
- Autocaracterização: a própria personagem refere as suas características.
- Heterocaracterização: a caracterização da personagem é-nos facultada pelo narrador ou por outra personagem.
- Indirecta: O narrador põe a personagem em acção, cabendo ao leitor, através do seu comportamento e/ou da sua fala, traçar o seu retrato.
[editar] Espaço ou Ambiente
• Espaço ou Ambiente físico: é o espaço real, que serve de cenário à ação, onde as personagens se movem.
• Espaço ou Ambiente social: é constituído pelo ambiente social, representando, por excelência, pelas personagens figurantes.
• Espaço ou Ambiente psicológico: espaço interior da personagem, abarcando as suas vivências, os seus pensamentos e sentimentos.
O espaço ou ambiente pode ser desde uma praia a um lago congelado. De acordo com espaço ou ambiente é que os fatos da narração se desenrolam.
[editar] Narrador
- Participação
- Heterodiegético: Não participante.
- Autodiegético: Participa como personagem principal.
- Homodiegético: Participa como personagem secundária.
- Focalização: É a perspectiva adoada pelo narrador em relação ao universo narrado. diz respeito ao MODO como o narrador vê os fatos da história.
- Focalização omnisciente: colocado numa posição de transcendência, o narrador mostra conhecer toda a história, manipula o tempo, devassa o interior das personagens.
- Focalização interna: o narrador adota o ponto de vista de uma ou mais personagens, daí resultando uma diminuição de conhecimento.
- Focalização externa: o conhecimento do narrador limita-se ao que é observável do exterior.
- Focalização neutra: O narrador não expõe seu ponto de vista( este modo não existe na prática, apenas na teoria).
- Focalização restritiva: A visão dos fatos dá -se através da ótica de algum personagem.
- Focalização interventiva : O autor faz observações sobre os personagens( típica dos romances modernos - Machado de Assis )
[editar] Sucessão e Integração
Claude Bremond, ao definir narrativa, acrescentará a sucessão e a integração como essenciais para a narratividade: "Toda narrativa consiste em um discurso integrando uma sucessão de acontecimento de interesse humano na unidade de uma mesma ação. Onde não há sucessão não há narrativa, mas, por exemplo, descrição, dedução, efusão lírica, etc. Onde não há integração na unidade de uma ação, não há narrativa, mas somente cronologia, enunciação de uma sucessão de fatos não relacionados".
[editar] Totalidade de significação
A totalidade de significação é apontada por Greimas como outro elemento fundamental da narrativa. Ainda que aparentemente o leitor não entenda um texto, há de ter nele uma significação para que se configure como história, como narração.
[editar] Em prosa e verso
Apesar de aparecer comummente em prosa, a narração pode existir em versos. Os exemplos clássicos são as epopéias, como a Odisséia, ou os romanceiros, como o Romanceiro da Inconfidência. Mas poemas como O Caso do Vestido e Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade, são verdadeiras narrativas em versos, com acção, personagens, sucessão, integração e significação.
[editar] Bons contos para ler e analisar
A cartomante de Machado de Assis, O poço de Mário de Andrade, O retrato oval de Edgar Allan Poe, Suje-se gordo de Machado de Assis, A quinta história de Clarice Lispector.
[editar] Ver também
[editar] Ligações externas
- [1] -