Nélson Rodrigues
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Nélson Falcão Rodrigues (Recife, 23 de agosto de 1912 — Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1980) foi um importante dramaturgo, jornalista e escritor brasileiro.
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[editar] Biografia
[editar] Infância
Nascido na capital pernambucana e quinto de quatorze irmãos, Nélson Rodrigues mudou-se para o Rio de Janeiro ainda criança, onde viveria por toda sua vida. Seu pai, o ex-deputado federal e jornalista Mário Rodrigues, perseguido politicamente, resolveu estabelecer-se na então capital federal em julho de 1916, empregando-se no jornal Correio da Manhã, de propriedade de Edmundo Bittencourt.
Segundo o próprio Nélson em suas Memórias, seu grande laboratório e inspiração foi a infância vivida na Zona Norte da cidade. Dos anos passados numa casa simples na rua Alegre, 135 (atual rua Almirante João Cândido Brasil), no bairro de Aldeia Campista, saíram para suas crônicas e peças teatrais as situações provocadas pela moral vigente na classe média dos primeiros anos do século XX e suas tensões morais e materiais.
Sua infância foi marcada por este clima e pela personalidade do garoto Nélson. Retraído, era um leitor compulsivo de livros românticos do século XIX. Nesta época ocorreu também para Nélson a descoberta do futebol, uma paixão que conservaria por toda a vida e que lhe marcaria o estilo literário.
Na década de 1920, Mário Rodrigues fundou o jornal A Manhã, após romper com Edmundo Bittencourt. Seria no jornal do pai que Nélson começaria sua carreira jornalística, na seção de polícia, com apenas treze anos de idade. Os relatos de crimes passionais e pactos de morte entre casais apaixonados incendiavam a imaginação do adolescente romântico, que utilizaria muitas das histórias reais que cobria em suas crônicas futuras. Neste período a família Rodrigues conseguiria atingir uma situação financeira confortável, mudando-se para o bairro de Copacabana, então um arrabalde luxuoso da orla carioca.
Apesar da bonança, Mário Rodrigues perderia o controle acionário de A Manhã para o sócio. Mas, em 1928, com o providencial auxílio financeiro do vice-presidente Fernando de Melo Viana, Mário fundou o diário Crítica.
Como cronista esportivo, Nélson escreveu textos antológicos sobre o Fluminense Football Club, clube para o qual torcia fervorosamente[1], a maioria deles publicados no Jornal dos Sports. Junto com seu irmão, o jornalista Mário Filho, Nélson foi fundamental para que o Fla-Flu tivesse conquistado o prestígio que conquistou, como um dos grandes clássicos do futebol brasileiro. Nélson Rodrigues criou e evocava personagens fictícios como Gravatinha e Sobrenatural de Almeida para elaborar textos a respeito dos acontecimentos esportivos relacionados ao clube do coração.
[editar] Adolescência e juventude
Nélson seguiu com seus irmãos Mílton, Mário Filho e Roberto para a redação do novo jornal. Ali continuou a escrever na página de polícia enquanto Mário Filho cuidava dos esportes e Roberto, um talentoso desenhista, fazia as ilustrações. Crítica era um sucesso de vendas, misturando uma cobertura política apaixonada com o relato sensacionalista de crimes. Mas o jornal existiria por pouco tempo. Em 26 de dezembro de 1929, a primeira página de Crítica trouxe o relato da separação do casal Sylvia Serafim e João Thibau, Jr. Ilustrada por Roberto e assinada pelo repórter Orestes Barbosa, a matéria provocou uma tragédia. Sylvia, a esposa que se desquitara do marido e cujo nome fora exposto na reportagem invadiu a redação de Crítica e atirou em Roberto com uma arma comprada naquele dia. Nélson testemunhou o crime e a agonia do irmão, que morreu dias depois.
Mário Rodrigues, deprimido com a perda do filho, faleceu poucos meses depois. Sylvia, apoiada pelas sufragistas e por boa parte da imprensa concorrente de Crítica, foi absolvida do crime. Finalmente, durante a Revolução de 30, a gráfica e a redação de Crítica são empastelados e o jornal deixa de existir. Sem seu chefe e sem fonte de sustento, a família Rodrigues mergulha em decadência financeira.
Foram anos de fome e dificuldades para todos. Desempregados e hostilizados pelo novo regime, os Rodrigues demorariam anos para serem recompensados pelos prejuízos causados pela turba.
Ajudado por Mário Filho, amigo de Roberto Marinho, Nélson passa a trabalhar no jornal O Globo, sem salário. Apenas em 1932 é que Nélson seria efetivado como repórter no jornal. Pouco tempo depois, Nélson descobriu-se tuberculoso. Para tratar-se, retira-se do Rio de Janeiro e passa longas temporadas em um sanatório na cidade de Campos do Jordão. Seu tratamento é custeado por Marinho, que conquistou a gratidão de Nélson pelo resto de sua vida. Recuperado, Nélson volta ao Rio e assume a seção cultural de O Globo, fazendo a crítica de ópera. Em 1940 casou-se com Elza Bretanha, sua colega de redação.
A partir da década de 1940, Nélson divide-se entre o emprego em O Globo e a elaboração de peças teatrais. Em 1941 escreve A mulher sem pecado, que estreou sem sucesso. Pouco tempo depois assina a revolucionária Vestido de noiva, peça dirigida por Zbigniew Ziembiński e que estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com estrondoso sucesso.
O teatrólogo Nélson Rodrigues seria o criador de uma sintaxe toda particular e inédita nos palcos brasileiros. Suas personagens trouxeram para a ribalta expressões tipicamente cariocas e gírias da época, como "batata!" e "você é cacete, mesmo!". Vestido de noiva é considerada até hoje como o marco inicial do moderno teatro brasileiro.
[editar] Maturidade
Em 1945 abandona O Globo e passa a trabalhar nos Diários Associados. Em O Jornal, um dos veículos de propriedade de Assis Chateaubriand, começa a escrever seu primeiro folhetim, Meu destino é pecar, assinado pelo pseudônimo "Susana Flag". O sucesso do folhetim alavancou as vendas de O Jornal e estimulou Nélson a escrever sua terceira peça, Álbum de família.
Em fevereiro de 1946, o texto da peça foi submetido à Censura Federal e proibido. Álbum de família só seria liberada em 1965. Em abril de 1948 estreou Anjo negro, peça que possibilitou a Nélson adquirir uma casa no bairro do Andaraí e em 1949 Nélson lançou Dorotéia.
Em 1950 passa a trabalhar no jornal de Samuel Wainer, a Última Hora. No jornal, Nélson começa a escrever as crônicas de A vida como ela é, seu maior sucesso jornalístico. Na década seguinte, Nélson passa a trabalhar na recém-fundada TV Globo, participando da bancada da Grande Resenha Esportiva Facit, a primeira "mesa-redonda" sobre futebol da televisão brasileira e, em 1967, passa a publicar suas Memórias no mesmo jornal Correio da Manhã onde seu pai trabalhou cinqüenta anos antes.
[editar] O fim
Nos anos 70, consagrado como jornalista e teatrólogo, a saúde de Nélson começa a decair, por causa de problemas gastroenteorológicos e cardíacos de que era portador. O período coincide com os anos da ditadura militar, que Nélson sempre apoiou. Entretanto, seu filho Nélson Rodrigues Filho torna-se guerrilheiro e se passa para a clandestinidade. Neste período também aconteceu o fim de seu casamento com Elza e o início do relacionamento com Lúcia Cruz Lima, com quem teria uma filha, Daniela, nascida com problemas mentais. Depois do término do relacionamento com Lúcia, Nélson ainda manteria um rápido casamento com sua secretária Helena Maria, antes de reatar seu casamento com Elza.
Nélson faleceu numa manhã de domingo, em 1980, aos 68 anos de idade, de complicações cardíacas e respiratórias. Foi enterrado no Cemitério São João Batista, em Botafogo. No fim da tarde daquele mesmo dia ele faria treze pontos na Loteria Esportiva, num "bolão" com seu irmão Augusto e alguns amigos de "O Globo". Dois meses depois, Elza cumpriu o seu pedido — de, ainda em vida, gravar o seu nome ao lado do dele na lápide de seu túmulo, sob a inscrição: "Unidos para além da vida e da morte. E é só".
[editar] Obras
[editar] Teatro
Nélson Rodrigues escreveu dezessete peças teatrais. Sua edição completa abrange quatro volumes, divididos na ordem cronológica. Assim, as peças seguem o plano de publicação:
- Peças psicológicas
- Peças míticas
- Álbum de família
- Anjo negro
- Senhora dos Afogados
- Dorotéia´
- Tragédias Cariocas I
- A falecida
- Perdoa-me por me traíres
- Os sete gatinhos
- Boca de ouro
- Tragédias Cariocas II
- O beijo no asfalto
- Bonitinha, mas ordinária ou Otto Lara Rezende
- Toda Nudez Será Castigada
- A serpente
[editar] Ordem cronológica
- Estréias das peças (todas no Rio de Janeiro)
- A mulher sem pecado - 1941 - Direção: Rodolfo Mayer
- Vestido de noiva - 1943 - Direção: Zbigniew Ziembiński
- Álbum de família - 1946 - Direção: Kleber Santos
- Anjo negro - 1947 - Direção: Zbigniew Ziembiński
- Senhora dos Afogados - 1947 - Direção: Bibi Ferreira
- Dorotéia - 1949 - Direção: Zbigniew Ziembiński
- Valsa nº 6 - 1951 - Direção: Milton Rodrigues
- A falecida - 1953 - Direção: José Maria Monteiro
- Perdoa-me por me traíres - 1957 - Direção: Léo Júsi
- Viúva, porém honesta - 1957 - Direção: Willy Keller
- Os sete gatinhos - 1958 - Direção: Willy Keller
- Boca de ouro - 1959 - Direção: José Renato
- O beijo no asfalto - 1960 - Direção: Fernando Torres
- Bonitinha, mas ordinária - 1962 - Direção Martim Gonçalves
- Toda nudez será castigada - 1965 - Direção: Zbigniew Ziembiński
- Anti-Nélson Rodrigues - 1974 - Direção: Paulo César Pereio
- A serpente - 1978 - Direção: Marcos Flaksman
[editar] Romances
- Meu destino é pecar - 1944
- Escravas do amor - 1944
- Minha vida - 1944
- Núpcias de fogo - 1948
- A mulher que amou demais - 1949
- O homem proibido - 1959
- A mentira - 1953
- Asfalto selvagem - 1959 (também conhecido como Engraçadinha)
- O casamento - 1966
[editar] Contos
- Cem contos escolhidos - A vida como ela é... - 1972
- Elas gostam de apanhar - 1974
- A vida como ela é — O homem fiel e outros contos - 1992
- A dama do lotação e outros contos e crônicas - 1992
- A coroa de orquídeas - 1992
[editar] Crônicas
- Memórias de Nélson Rodrigues - 1967
- O óbvio ululante: primeiras confissões - 1968
- A cabra vadia - 1970
- O reacionário: memórias e confissões - 1977
- O remador de Ben-Hur - 1992
- A cabra vadia - Novas confissões - 1992
- A pátria sem chuteiras - Novas Crônicas de Futebol - 1992
- A menina sem estrela - memórias - 1992
- À sombra das chuteiras imortais - Crônicas de Futebol - 1992
- A mulher do próximo - 1992
[editar] Telenovelas
- Baseadas na obra de Nélson Rodrigues
- A morta no espelho - TV Rio - 1963
- Sonho de amor - TV Rio - 1964
- O desconhecido - TV Rio - 1964
- O homem proibido - TV Globo - 1982
[editar] Filmes
- Baseados na obra de Nélson Rodrigues
- Somos dois - 1950 - Direção: Milton Rodrigues
- Meu destino é pecar - 1952 - Direção: Manuel Pelufo
- Mulheres e milhões - 1961 - Direção: Jorge Ileli
- Boca de ouro - 1963 - Direção: Nelson Pereira dos Santos
- Meu nome é Pelé - 1963 - Direção: Carlos Hugo Christensen
- Bonitinha mas ordinária - 1963 - Direção: J.P. de Carvalho
- Asfalto selvagem - 1964 - Direção: J.B. Tanko
- A falecida - 1965 - Direção: Leon Hirzman
- O beijo - 1966 - Direção: Flávio Tambellini
- Engraçadinha depois dos trinta - 1966 - Direção: J.B. Tanko
- Toda nudez será castigada - 1973 - Direção: Arnaldo Jabor
- O casamento - 1975 - Direção: Arnaldo Jabor
- A dama do lotação - 1978 - Direção: Neville d'Almeida
- Os sete gatinhos - 1980 - Direção: Neville d'Almeida
- O beijo no asfalto - 1980 - Direção: Bruno Barreto
- Bonitinha mas Ordinária ou Otto Lara Rezende - 1981 - Direção: Braz Chediak
- Álbum de família - 1981 - Direção: Braz Chediak
- Engraçadinha - 1981 - Direção: Haroldo Marinho Barbosa
- Perdoa-me por me traíres - 1983 - Direção: Braz Chediak
- Boca de ouro - 1990 - Direção: Walter Avancini
- Vestido de noiva - 2006 - Direção de Joffre Rodrigues
[editar] Ver também
[editar] Ligações externas
- Página dedicada a Nélson Rodrigues
- Biografia do autor
- Especial JB Online sobre Nélson Rodrigues
- Nélson por ele mesmo (trechos de Memórias)