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Moisés Espírito Santo - Wikipédia

Moisés Espírito Santo

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Moisés Espírito Santo Bagagem ( Batalha, Distrito de Leiria, ano de 1934 ) é Professor Catedrático da Universidade Nova de Lisboa: Professor de Sociologia no Departamento de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, sociólogo e etnólogo.


" O objectivo da Ciência é ultrapassar as ideologias, as alienações, as manipulações, os nacionalismos, os 'localismos', o saber popular, o dogmatismo erudito, o 'seguidismo' religioso, o 'consensualismo' académico, e, sobretudo, a ignorância ou a 'insciência', sem ter pavor de contrariar os mestres das Academias, que castravam as naturais capacidades dos seus alunos com o impossível descobrir, visto que a 'concepção medieval reinante de ‘ciência’ ' até aos anos 70 em Portugal nas Academias, se pautava pelas mesmas regras que as 'clericaturas': obediência servil à sua autoridade infalível, bajulação da sua eminente superioridade e repetição da sua imutável doutrina, para além de se comprazer com a ideologia da ignorância: não querer saber, recusar-se a descobrir. Alguns ainda até têm por 'alta ciência' o escrever ou o ditar da cátedra um 'não se sabe' !!! É a promoção da ignorância ao grau de sapiência !!!...E, em Portugal, as escolas, frequentemente, obstroem a memória colectiva e a identidade ancestral das populações, alienando, tendo em vista a afirmação do poder dos letrados sobre os 'iletrados'... " - M.E.S.


Índice

[editar] Formação e Actividade Académica

Até ao ano de 1963, ano em que emigrou para a cidade de Paris, França, onde residiu até ao ano de 1980, trabalhou, em Portugal, em vários lugares da Função Pública. De 1963 a 1973, em França, exerceu a profissão de animador cultural, direccionado para o meio imigrante português e magrebino, por conta de vários organismos estatais da República Francesa, tendo procedido a uma actividade de difusão e de animação cultural na emigração portuguesa, tendo fundado as primeiras associações de emigrantes (com actividades de formação e de animação cultural) em colaboração com os municípios e os sindicatos. Fundou também o primeiro jornal de língua portuguesa em França («Jornal do Emigrante»).

Em 1973, matriculou-se na École des Hautes Etudes en Sciences Sociales(VIe Section)[1]; [2], tendo-se Diplomado em «Sociologia Rural», com a tese Comunidade Rural ao Norte do Tejo – Estudo de Sociologia Rural, no ano de 1976, produto de uma investigação de terreno realizada na freguesia o Reguengo do Fetal, Concelho da Batalha, Distrito de Leiria, sob a orientação do Professor Placide Rambaud (1922-1990) (Director do 'Centre de Sociologie Rurale' e Director de Estudos Titular no 'Centre National de la Recherche Scientifique'), e tendo-se Doutorado em «Sociologia das Religiões», no ano de 1979, com a tese La Religion Paysanne dans le Nord du Portugal (Thèse 3ème cycle Sociol.), Paris, 1979, 409 f.,sob a orientação do Professor Émile Poulat[3](Director do 'Centre de Sociologie des Religions' e Director de Estudos Titular no 'Centre National de la Recherche Scientifique'). A tese de Doutoramento foi publicada, em Portugal, no ano de 1984, com o título de 'A Religião Popular Portuguesa'.

Em 1980, foi contratado pela Universidade Nova de Lisboa para leccionar Sociologia Rural no Departamento de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, como Professor Auxiliar Convidado : instituição universitária da qual é, actualmente, Professor Catedrático, sendo responsável pelas Cadeiras de Sociologia da Vida Religiosa, de Sociologia Rural Aprofundada, de Sociologia da Vida Quotidiana e de Etno-Sociologia das Sociedades Mediterrânicas, leccionando também nos vários Mestrados em Sociologia, mas também em Ecologia Humana e em Estudos Portugueses, para além de dirigir o Curso de Pós-Graduação em Sociologia do Simbólico e do Pensamento Religioso e de orientar várias teses de Mestrado e de Doutoramento nas áreas em que é especialista, tendo orientado as teses de vários docentes, quer em Portugal quer no estrangeiro, que ocupam, actualmente, cargos universitários de algum relevo, do qual são exemplos relevantes Maria Antonieta Garcia ou António Rebelo Delgado Tomás (Universidade da Beira Interior). É fundador e presidente da Associação de Estudos Rurais da Universidade Nova de Lisboa e do Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões da Universidade Nova de Lisboa e co-fundador do Instituto Mediterrânico da Universidade Nova de Lisboa, sendo co-fundador e director das Revistas «Fórum Sociológico», editada pelo Instituto de Estudos e Divulgação Sociológica da Universidade Nova de Lisboa e da Revista Mediterrâneo – Revista de Estudos Pluridisciplinares sobre as Sociedades Mediterrânicas - Instituto Mediterrânico da Universidade Nova de Lisboa.


[editar] Investigação

Sociologia das Religiões

Moisés Espírito Santo foi, em Portugal, um dos primeiros investigadores a realizar trabalhos de Etnologia científica, ao dar inteligibilidade científica à cultura popular/étnica/tradicional portuguesa (com uma abordagem científica, objectiva, com conceitos racionais e métodos científicos: abordagem etnológica e sociológica, muito diferente da abordagem literária, poética, filosófica ou propagandista feita por grande parte dos eruditos, publicistas e académicos portugueses ao longo dos tempos, identificando a sua origem cultural-matriz : Fenícia/Cananeia/Púnica/Cartaginesa), cujos 'modos de vida' dos seus estratos baixos eram exaltados, de modo propangandista, por grande parte dos estudos etnográficos e folclóricos, promovidos pelo Estado Novo, com muito pouco rigor científico e com carácter mítico, tendo sido um dos percursores dos estudos de Sociologia Rural, com a realização do estudo Comunidade Rural ao Norte do Tejo - Estudo de Sociologia Rural. Nele se descrevem, a partir da observação participante, os mecanismos sociológicos que, então, regiam as sociedades rurais portuguesas, predominantemente agrícolas, e promoviam a sua coesão, onde já descreve e analisa os cultos anteriores à implementação do Catolicismo Romano e que permaneceram até ao século XX em confronto social com ele ou misturado com ele, utilizando, no terreno, os conceitos operatórios utilizados pelos sociólogos franceses de “religião popular”, conjunto de mitos e rituais anteriores ao Catolicismo Romano e que foram reapropriados por ele, e “religião institucional”, Catolicismo Romano, no capítulo VII : ‘A Religião da Freguesia e a sua Função’, pp.153-199., : génese dos estudos de Sociologia das Religiões no qual se especializou, que foram bastante desenvolvidos pelo Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões da Universidade Nova de Lisboa, que se dedica à investigação em Sociologia e Etnologia das Religiões, nomeadamente nas áreas do Sagrado, da Laicidade e do Abstencionismo Religioso, à promoção de Cursos Livres sobre o estudo dos fenómenos religiosos e à edição de estudos de Sociologia das Religiões. O Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões tem, até à data, quinze obras publicadas, algumas das quais em várias edições e inaugurou a Colecção «Ambientes Sociais», que tem como objectivo fundamental a publicação de trabalhos noutras áreas das Ciências Sociais e Humanas, congregando, na cidade de Lisboa, várias dezenas de pessoas que organizam, periodicamente, encontros científicos, denominados ‘Semana de Estudos das Religiões’, com vários especialistas, para além de ter organizado três congressos sobre ‘Religião e Ideal Maçónico’, com a colaboração do Centro de Estudos Afonso Domingues, nos anos de 1994, de 1998 e de 2001. O Instituto convida os especialistas em Sociologia das Religiões para a formação complementar dos alunos, tendo instalado, em 1999, um curso livre de «História e Doutrina do Esoterismo Ocidental» (trimestral, três horas semanais) sob a direcção do Doutor José Anes, para além de estar atento a todas as propostas de reflexão sobre as religiões e a mudança religiosa.


Culturas do Mediterrâneo

Moisés Espírito Santo foi também um dos primeiros investigadores portugueses a identificar, sob uma perspectiva etnológica e numa análise que considera os processos sociais num contexto temporal de longa duração, ou seja, durante séculos e milénios, a identidade mediterrânica das populações do território português e a defender o seu enquadramento no espaço cultural do Mediterrâneo : com a matriz cultural Fenícia/Cananeia/Púnica/Cartaginesa comum a todo o seu território, mas com maior incidência no Noroeste Português ( e também na Galiza e nas Astúrias): aquilo a que os arqueólogos e os historiógrafos tradicionais denominam, em estereótipo, 'Civilização dos Crastos e das Citânias', a que se sucederam as Culturas Hebraica e Judaica a Norte, como culturas dominantes, que estão no fundamento da organização sócio-económica constituída pelo regime senhorial enfitêutico, pelos morgadios/vínculos, pelas famílias troncais do Noroeste Português (e também na Galiza e nas Astúrias) das casas brasonadas (brasões anteriores ao reinado de D. Manuel I, O Venturoso), para além de algumas zonas de Trás-os-Montes e das Beiras (investigação preliminar sobre este assunto na obra O Brasonário Português e a Cultura Hebraica, editada em 1997, onde se identifica, ainda que de modo preliminar, a origem cultural de um sistema sócio-económico que permaneceu quase até, à contemporaneidade, no Noroeste Peninsular) culturas que foram, completamente, esquecidas pelo Ensino Greco-Latinista das Universidades Portuguesas, durante muito tempo sob a orientação da Igreja Católica Romana, ministrado sob uma óptica católico-romana, desde o seu início na Idade Média até aos anos setenta do século XX; Por sua vez, constata-se que o Centro e o Sul foram colonizados por Tribos Berberes (Tribos Macemuda e Zenaga, com a invasão de 711, chefiadas por alguns líderes Árabes - investigação preliminar sobre este assunto na obra Os Mouros Fatimidas e as Aparições de Fátima, editada em 1995 e melhorada em 1998 (4ªedição), que ocuparam o espaço onde estava implantado a Cultura Romana e onde se implantou, com maior incidência, com a substituição da Igreja Católica pelo Império Romano, as estruturas do Catolicismo Romano, como a Inquisição (Évora, Lisboa e Coimbra), demonstrando-se, assim, a inexistência da influência de outros povos inventados pelos cronistas clássicos e pelos arqueólogos e historiógrafos portugueses ao longo dos séculos (devido factores de ignorância académica e científica) como os Celtas, os Suevos, os Godos, os Visigodos ou os Árabes, entre muitos outros, diagnóstico também constatado por outros sociólogos europeus como Paul Deschamps na obra L’Histoire Sociale du Portugal (1939, 1959, p.30) : “A influência árabe, em Portugal, foi menos importante do que se julga. Certas palavras têm uma falsa etimologia árabe ou uma origem mista, outros têm sido falsamente atribuídas aos Árabes com o pretexto de que estes são semitas. Nós sabemos que essas palavras vêm dos Fenícios, e que outras são simplesmente hebraicas.” As Culturas do Mediterrâneo pré-clássicas têm sido estudadas pelo Instituto Mediterrânico da Universidade Nova de Lisboa, que tem realizado encontros científicos de cariz internacional, como o Iº Congresso Mediterrânico de Etnologia Histórica - A Identidade Mediterrânica, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, na cidade de Lisboa, no ano de 1991, que reuniu mais de duzentos especialistas do Mediterrâneo provenientes de todo o Mundo, e o Iº Encontro Luso-Marroquino de Cooperação, que decorreu na cidade de Rabat, em Marrocos, no ano de 1993, com a colaboração do Instituto Luso-Árabe para a Cooperação, a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Marroquina e a Association Ribat Al Fath.O Instituto Mediterrânico edita a Revista Mediterrâneo – Revista de Estudos Pluridisciplinares sobre as Sociedades Mediterrânicas, da qual Moisés Espírito Santo é director e que co-fundou no ano de 1992. A revista tem, até à data, 13 números publicados, com uma média de 300 páginas por número, contando com colaboradores das mais diversas instituições universitárias da Europa e do Médio Oriente. A revista é temática; comporta um Conselho Consultivo com elementos de Portugal, França, Espanha, Marrocos e Tunísia, um Conselho Editorial e um conselho de Colaboradores Permanentes que são os sucessivos coordenadores. Não tem um conselho redactorial próprio, abrindo-se à colaboração dos especialistas das áreas do Mediterrâneo, da Faculdade ou exteriores, que se propõem organizar números temáticos das respectivas especialidades. O Instituto Mediterrâneo possui um fundo bibliográfico sobre o Islão e outro sobre o Judaísmo e mantém contactos com cerca de duzentas e cinquenta associações da Europa, do Magrebe e do Médio-Oriente, orientando os seus interesses para a Sociologia, a Geo-Política e a História do Mediterrâneo.


Estudos de Toponímia

Moisés Espírito Santo é também responsável pela realização dos únicos estudos sobre toponímia realizados em Portugal com credibilidade científica (que são, a par das investigações de terreno e «Sociologia das Religiões, as suas investigações de terreno de maior relevância científica), derivados do método proposto pelo investigador francês Victor Bérard, Les Phéniciens et L’Odissée (1927), para a toponímia dos países do Mediterrâneo, que aperfeiçoa, denominado ‘método da constelação local’, tendo percorrido milhares de quilómetros por todo o Portugal e vasculhado muitos lugares recônditos, guiado por cartas militares, deslocando-se de autocarro, de táxi ou a pé : tipo de investigação no terreno exposta, sobretudo, nas obras Ensaio Sobre Toponímia Antiga(1988), Fontes Remotas da Cultura Portuguesa(1989) e Cinco Mil Anos de Cultura a Oeste — Etno-História da Religião Popular numa Região da Estremadura (2004), onde se desvela a origem etimológica cananeia/fenícia/púnica/cartaginesa/hebraico antigo de toda a toponímia do território português e onde se comprova a falsidade de todos outros métodos de análise de feição latinista utilizados, até então, pelos publicistas e letrados portugueses desde o aparecimento dos Estudos Superiores na Idade Média e onde se demonstra que a língua falada, em todo o território português, antes da colonização romana, era a fenícia/púnica/cananeia/cartaginesa/hebraico antigo e que se fundiu, em crioulo, com o Latim, língua do ocupante utilizada na administração e, mais tarde, com o decorrer da evolução social, utilizado nas universidades e nas estruturas religiosas da Igreja Católica Romana (ordens religiosas, inquisição, dioceses e paróquias) como língua dominante, apesar do Fenício/Cananeu e os valores da Cultura Fenícia/Cananeia, de feição matriarcal e matrifocal, terem permanecido, como língua e cultura dominadas, em muitos casos quase intactos, nos meios mais isolados e arcaicos do território português (como exemplo relevantes, no linguajar popular/tradicional/étnico das populações rurais portuguesas) até à contemporaneidade, identificáveis em muitos dos seus aspectos sociais e culturais, como descreve Natália Correia : “O trabalho de Moisés Espírito Santo vai muito além de uma exploração da etnologia comparada das religiões. Ela mergulha no âmago da cultura identificada através das crenças e dos ritos fortemente impregnados da imagem materna. E, nessa descida às grutas mais recônditas da psique portuguesa, faz-nos ver os arquétipos que explicam a fragilidade da supremacia institucional do poder masculino. Uma matriarcalidade interiorizada que não oferece estímulos aos feminismos históricos que prosperam nas sociedades onde não vigora o predomínio mais ou menos visível dos valores femininos. O estratagema do mariavalismo camufla-os? O próprio acratismo da índole portuguesa hostil à patriarcalidade do Estado, descobre-os. O homem português só se reconhece seguro no seio materno.” (posfácio à obra Origens Orientais da Religião Popular Portuguesa). O Professor Moisés Espírito Santo fez tabula rasa das investigações realizadas pelos linguístas portugueses ao longo dos tempos, baseadas em pressupostos latinistas ou celtistas, pan-germanistas e anti-semitas, construídos pelos latinistas portugueses desde o aparecimento dos Estudos Superiores na Idade Média e pelos intelectuais europeus pan-germanistas, celtistas e anti-semitas durante o século dezanove, retomando as teses preliminares desenvolvidas pelo Cardeal Saraiva, identificando unicamente duas origens linguísticas que formaram a língua portuguesa: o Latim e as várias variantes do Fenício/Púnico/Cartaginês : o cananeu/cananita/ugarítico, o acadiano/acádio, o assírio e o hebraico antigo, para além das palavras gregas (introduzidas, sobretudo, nas estruturas universitárias) e dos estrangeirismos modernos e contemporâneos.


Divulgação Sociológica

Moisés Espírito Santo é também director da Revista «Fórum Sociológico», que fundou em 1992 e que é editada pelo Instituto de Estudos e Divulgação Sociológica da Universidade Nova de Lisboa. Primeira Série : do ano de 1992 a 1999. Segunda Série : a partir de 1999. A Revista Fórum Sociológico tem, até à data, cerca de 18 números publicados, com uma média de 400 páginas por número, é uma publicação destinada à difusão de pequenos trabalhos científicos(papers), investigações não necessariamente acabadas, susceptíveis de provocar debate sobre a actualidade. Está aberta a uma colaboração alargada de alunos, investigadores e docentes das várias áreas das Ciências Sociais. O Instituto de Estudos e Divulgação Sociológica, para além de divulgar estudos de Sociologia, tem realizado encontros de carácter socio-económico, do qual se destaca “Setúbal - 10 anos em Retrospectiva” - fórum realizado, no ano de 1995, na cidade de Setúbal com a intervenção das várias instituições e dos protagonistas sociais da região.


[editar] Principais publicações

Considerado, por alguns académicos, um dos etnólogos e sociólogos portugueses mais representativos e uma referência científica na área de Sociologia das Religiões, com uma obra categorizada pela Bibliotéque Nationale de France como ‘ forme savante à valeur internationale ’, dele disse o sociólogo francês Émile Poulat : “J’ai vu naitre un chercheur de race. Vi afirmar-se uma vocação de investigador.” (prefácio à obra A Religião Popular Portuguesa ) e Natália Correia descreve a sua obra como “dimensão de obra-prima de um discurso etnológico que desvenda as memórias arquetípicas armazenadas na cultura popular e que a cultura urbana recalca.” (posfácio à obra Origens Orientais da Religião Popular Portuguesa), sendo um dos académicos e investigadores pioneiros, em Portugal, no âmbito das Ciências Sociais, cuja obra de investigação ainda está por compilar, traduzir e transmitir nos vários graus do Sistema de Ensino. Da sua obra de investigação sociológica e etnológica, para além dos inúmeros prefácios, preâmbulos e posfácios a vários estudos científicos e académicos e de apresentações a revistas académicas, de inúmeras comunicações proferidas dentro e fora da Universidade, da colaboração na imprensa francesa e portuguesa e de centenas de entrevistas de índole científico para os mass-media, destacam-se os seguintes trabalhos de investigação:


Livros

  • 1972 – Un Village Portugais (em co-autoria com Nicole Cherbuet), Saint Denis, Logement et promotion sociale, 45 páginas.
  • 1977 - Le Geant Adamastor et Autres Contes du Portugal(em co-autoria com Maria Padez-Kotzi),Paris, La Farandole, 60 páginas.
  • 1980 - Comunidade Rural ao Norte do Tejo – Estudo de Sociologia Rural(com prefácio de Placide Rambaud),Lisboa, Instituto de Estudos para o Desenvolvimento, 222 páginas.
  • 1981 - Portugal arte popular : diapositivos comentados (com revisão de matriz de Maria Beatriz Rocha Trindade), Lisboa, Instituto de Apoio à Emigração e às Comunidades Portuguesas, 18 páginas
  • 1984 - A Religião Popular Portuguesa(com prefácio de Émile Poulat), Lisboa, Edições ‘A Regra do Jogo’,270 p.; 2ªedição: Lisboa, Assírio & Alvim, Colecção Peninsulares/Especial Nº21, 1990, 296 páginas(2ªedição revista e aumentada. Várias reimpressões da 2ªedição).
  • 1987 - O Concelho da Batalha(com fotografias e design de Severino Pereira), Lisboa, Câmara Municipal da Batalha, 140 páginas.
  • 1988 - Origens Orientais da Religião Popular Portuguesa seguido de Ensaio sobre Toponímia Antiga(com posfácio de Natália Correia),Lisboa, Assírio & Alvim, Colecção Peninsulares/Especial Nº10, 395 páginas.(várias reimpressões)
  • 1989 - Fontes Remotas da Cultura Portuguesa,Lisboa, Assírio & Alvim, Colecção Peninsulares/Especial Nº16, 396 páginas.(várias reimpressões)
  • 1993 - Origens do Cristianismo Português, precedido de A Deusa Síria de Luciano de Samoçata,Lisboa, Instituto de Socologia e Etnologia das Religiões da Universidade Nova de Lisboa e Gráfica 2000, 242 páginas ( 1ª edição), 1997 (2ªedição).
  • 1993 - Dicionário Fenício-Português :10 000 vocábulos das línguas e dialectos falados pelos Fenícios e Cartagineses desde o século XXX a.C., englobando o fenício, o acadiano, o assírio e o hebraico bíblico,Lisboa, Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões da Universidade Nova de Lisboa e Gráfica 2000, 290 páginas, 2ª edição: 1994.
  • 1995 - Lição: Introdução Sociológica ao Islão,Vila Nova de Gaia, Estratégicas Criativas, 64 páginas(Lição para a obtenção do grau de Professor Agregado em Sociologia das Religiões, proferida na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa nos dias 27 e 28 de Março de 1995)
  • 1995 - Os Mouros Fatimidas e as Aparições de Fátima,Lisboa, Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões da Universidade Nova de Lisboa e Gráfica 2000, 400 páginas. (quatro edições. A quarta edição (1998) foi melhorada e aumentada. Foi feita, recentemente, a 5ª edição: Lisboa, Assírio & Alvim, 2006. - 281, [6], p. : il. ; 24 cm. - Lusitânia ; 6 -ISBN 972-37-0932-5) e existe uma tradução parcial da obra em italiano por Marcello Saco: Fátima Magica — Le Apparizioni di Fátima fra Cristianesimo Popolare e Misticismo Islamico, Le Nardo Itália, BESA Editrice, 1999,ISBN 88-86730-89-6.
  • 1997 - O Brasonário Português e a Cultura Hebraica, Lisboa, Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões da Universidade Nova de Lisboa e Gráfica 2000, 302 páginas, 2000 (2ªedição).
  • 1999 - Comunidade Rural ao Norte do Tejo seguido de Vinte Anos Depois, Lisboa, Associação de Estudos Rurais da Universidade Nova de Lisboa e Gráfica 2000, 351 páginas.
  • 2001 - Origens do Cristianismo Português (Versão Corrigida e Melhorada,Lisboa, Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões da Universidade Nova de Lisboa e Gráfica 2000, 320 páginas.
  • 2002 - A Religião na Mudança  : A Nova Era, Lisboa, Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões da Universidade Nova de Lisboa e Gráfica 2000, 303 páginas.
  • 2004 - Cinco Mil Anos de Cultura a Oeste — Etno-História da Religião Popular numa Região da Estremadura,Lisboa, Assírio & Alvim, Colecção Peninsulares/Especial, 535 páginas.


Estudos/Artigos

  • 1982 - “A propósito da abertura da Portela do Homem : Minho: uma "guerrilha" secular contra o Terreiro do Paço"em História n.46, Lisboa, Agosto de 1982, pp.38-44.
  • 1983 - “La Religion des Paysans Portugais”, Paris, Archive du Centre Culturel Portugais de la Fundation Calouste Gulbenkian, pp.49-78
  • 1983 - “Langages réligieux et spacialités” em Espaces et Culture (coordenação de Pierre Pellegrino), Berne, Éditions Georgi, Saint Saphorin, pp.23-77.
  • 1984 - “Sobre a visão e os costumes no que respeita à regionalização e à descentralização : regionalização e desintegração social.”em Regionalização e Desenvolvimento, Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, pp.77-89
  • 1985 - “Dois Modelos de Educação Familiar”em Contexto - Revista de Estudo Multidisciplinar da Família (dirigida pela antropóloga Manuela Fazenda), Volume 1, nº2, Lisboa, pp.135-147.
  • 1987 - “Sexualidade e Religião” em Sexologia em Portugal, Volume 2,(coordenação de J. Allen Gomes, Afonso de Albuquerque e J. Silveira Nunes)Lisboa, Texto Editora, pp.23-54.
  • 1990 - “Cidade ou campo: onde se vive melhor? ”, em Revista «Problemas e Práticas», N.º8, Lisboa, ISCTE, Setembro, 1990 (com João Ferrão, António Fonseca, Afonso Barros e Vítor Matias Ferreira).
  • 1992 -“Apresentação- Mediterrâneo : porquê e para quê?”; -“A Escrita Ibérica - interpretação da escrita e da língua ‘pré romanas’ ” em Revista Mediterrâneo - Revista Pluridisciplinar sobre as Socidades Mediterrânicas, nº1, Lisboa, Instituto Mediterrâneo da Universidade Nova de Lisboa e Gráfica 2000, pp.3-5 e pp.179-220.
  • 1993 -“O que é um Judeu?” estudo prévio à reedição da obra de Samuel Schwarz de 1925, Os Cristãos-Novos em Portugal no século XX, Lisboa, Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões da Universidade Nova de Lisboa e Gráfica 2000, pp.IX-XXII.(duas edições).
  • 1995 - "O touro na Bíblia: símbolo de Deus e vítima sacrificial.” em Revista Mediterrâneo -Revista Pluridisciplinar sobre as Sociedades Mediterrânicas, nº5/6, Lisboa, Instituto Mediterrânico da Universidade Nova de Lisboa e Gráfica 2000, Jul./Dez. 1994, Jan./Jun. 1995, pp.11-21.
  • 1996 - “A chamada escrita ibérica: decifração de três inscrições púnicas de Espanha” em Revista Mediterrâneo - Revista Pluridisciplinar sobre as Sociedades Mediterrânicas, nº8/9

Lisboa, Instituto Mediterrânico da Universidade Nova de Lisboa e Gráfica 2000, 1996, pp.289-309.

  • 1998 - -“Emergência do Indivíduo na Sociedade Pós-Moderna” em A Vivência do Sagrado - (Núcleo de Psicologia Transpessoal da Universidade de Lisboa), Lisboa, Editora Hugin, pp.19-28.
  • 2001 - Artigo/Estudo em Lisboa, Oeste e Vale do Tejo. Ligar a Europa e o Atlântico: competitividade e solidariedade (coordenação de António Fonseca Ferreira ; prefácio de Álvaro Guerra), Lisboa, Comissão de Coordenação da Região de Lisboa e Vale do Tejo, 2001, 123 p.


[editar] Ligações externas

INSTITUIÇÕES UNIVERSITÁRIAS

[4] Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões da Universidade Nova de Lisboa - Lisboa - Portugal

[5] Instituto Mediterrânico da Universidade Nova de Lisboa - Lisboa - Portugal

[6] Revista «Fórum Sociológico» - Instituto de Estudos e Divulgação Sociológica da Universidade Nova de Lisboa - Lisboa - Portugal

[7] Associação de Estudos Rurais da Universidade Nova de Lisboa - Lisboa - Portugal

[8] Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa - Lisboa - Portugal

[9] Universidade Nova de Lisboa - Lisboa - Portugal

[10] École des Hautes Etudes en Sciences Sociales - Paris - França

[11] École des Hautes Etudes en Sciences Sociales - fr.wikipedia.org - Paris - França.

EDITORAS

[12] Assírio & Alvim - Porto e Lisboa - Portugal

[13] Besa Group - Itália

[14] Archive du Centre Culturel Portugais de la Fundation Calouste Gulbenkian - Paris - França

[15] Imprensa Nacional Casa da Moeda - Lisboa, Porto, Coimbra e Aveiro - Portugal

[16] Hugin Editores - Lisboa - Portugal

[17] Texto Editora - Lisboa e Porto - Portugal

[18] Câmara Municipal da Batalha - Batalha - Portugal

As edições do Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões, da Associação de Estudos Rurais, do Instituto Mediterrânico e do Instituto de Estudos e Divulgação Sociológica da Universidade Nova de Lisboa são compostas e impressas pela Gráfica 2000 - Gabinete Técnico de Artes Gráficas Lda, Rua Sacadura Cabral nº 89 A - Dafundo, 1495-703 CRUZ QUEBRADA-DAFUNDO, concelho de Oeiras, distrito de Lisboa.

PESQUISA BIBLIOGRÁFICA DAS OBRAS DO AUTOR

[19] Serviços de Informação e Documentação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

[20] Rede de Bibliotecas Municipais de Lisboa

[21] Biblioteca Nacional / Porbase

[22] SIBUL - Serviço Integrado das Bibliotecas da Universidade de Lisboa

[23] Bibliotéque Nationale de France - França


[editar] Exemplo de duas entrevistas de carácter científico concedidas pelo Professor Moisés Espírito Santo

Numa quadrícula da Estremadura (concelhos de Nazaré, Alcobaça, Rio Maior, Porto de Mós, Batalha e Leiria) tomando por guião a religião popular (que é ancestral e imorredoura) e a toponímia (libertada dos estereótipos latinistas, pan-germanistas e arabistas), o autor põe a claro estratos da cultura lusitano-fenícia (ou lusitano-púnica) que foi tabu académico até aos anos 80 do século XX (proíbido investigar). A partir duma capela à Senhora da Luz, perto de Aljubarrota e do que foi o porto lusitano-fenício de Cós, deparamo-nos com um santuário megalítico à Lua (ainda quase intacto) e com resquícios do mito da Descida de Istar aos Infernos referente aos mistérios de Istar/Ísis (a Lua). A Lua foi uma das expressões da Magna Mater dos lusitanos (ainda invocada há trinta anos) donde provêm a Senhora da Conceição popular e a Senhora dos Prazeres (nome que não teve relação com gozos). De fio a fio, descobre-se que a história da Senhora da Nazaré é a tradução dum poema épicofenício escrito no século XV a.C., que a lenda de Santo Amaro procede da Epopeia de Guilgamesh (texto babilónico do século XXV a.C.) e que das mesmas paragens vieram outros deuses que deram os cultos populares de S. Brás, S. Bartolomeu, Santo António, Santa Susana, S. João (e a Moura Encantada)... Com uma digressão pelas fontes da região, ficamos a saber que algumas – pelos seus nomes – já foram lusitanas: ora de casamentos ora medicinais e uma, até, em memória da aparição da deusa Istar a uma rapariga. De lugar em lugar, por entre mitos e arqueossítios, emerge um vasto rol de descobertas como, por exemplo, a lenda da Padeira de Aljubarrota que foi um ditote lusitano-fenício/púnico referente a ladrões de celeiros, extraído do nome da terra. No fim da caminhada descobre-se uma rede de silos de cereais escavados na rocha (afro-orientais, da civilização púnica). E como esta cultura veio pelo mar, atente-se a como a gíria dos marujos portugueses foi a linguagem técnica dos mareantes acádico-fenícios.“Cinco mil anos de cultura a Oeste”...

...Por debaixo do que o informador deixou a descoberto deve o investigador procurar o que o dito encobre”. Moisés Espírito Santo, etnólogo das religiões, partiu deste princípio ao dedicar cinco anos de vida a investigar “Cinco mil anos de cultura a Oeste” pelos concelhos de Nazaré, Alcobaça, Rio Maior, Porto de Mós, Batalha e Leiria. Tendo como ponto de partida a religião popular e a toponímia dos locais que visitou, o autor fornece pistas sobre a presença lusitano-fenícia (ou lusitano-púnica) na região, contrariando, assim, o tabu académico sobre a cultura pré-romana em Portugal no ensino da História até aos anos 80 do século XX.

Entre muitas curiosidades, o investigador relaciona Santo Amaro, padroeiro de várias localidades no litoral do distrito, com o dilúvio babilónico. Como? A uns dois quilómetros da Igreja de Santo Amaro de Porto de Mós, sobre o trajecto de uma antiga estrada romana, entra--se na aldeia de Alcanadas cujo mito, refere Moisés Espírito Santo, diz ter sido ali que “a arca de Noé encalhou”. Como Amaro, em fenício, significa ‘dilúvio (amaru)’ e Alcanadas traduz o “sítio onde parou o dilúvio”, o nome daquela aldeia já seria interpretado, em fenício-púnico, como tendo ligação com o dilúvio babilónico. Daí a relação directa entre muitas povoações do litoral do distrito de Leiria e os respectivos santos padroeiros no que concerne à língua pré-romana. É o caso de Santo Amaro, o santo dos mares segundo a religião popular, também venerado na Maceira, em Alfeizerão e no Bairro da Figueira (Benedita).

Além dos santuários, também se pode beber da primitiva língua portuguesa pelas fontes de água. E no litoral do distrito existem várias cujos nomes derivam da língua fenícia. Por exemplo, no concelho de Alcobaça há duas fontes Mariana, ambas na freguesia da Benedita, povoação anterior à de Alcobaça. Ora, o nome Mariana significa simplesmente fonte, manancial de água.

Segundo Moisés Espírito Santo, os nomes dos sítios (lugares) são de criação oral e não têm a ver com a evolução da escrita. “Foram ditos e transmitidos oralmente e só passaram à escrita, na melhor das hipóteses, com as crónicas medievais”, afirma o investigador, de 72 anos, natural da Batalha. Defensor do método etnológico para a interpretação dos topónimos, o que exige observação no terreno, Moisés Espírito Santo salienta que “os nomes foram atribuídos aos sítios pelos utentes e vizinhos, em virtude das funções sociais ou das razões geográficas que esses sítios evocavam”. É o caso de Porto de Mós cuja palavra moos significa “porto de abrigo” em fenício-hebraico, a condizer com a geografia do local. Os nomes também significavam qualquer coisa que existia ou se fazia no local. Por exemplo, Leiria, na língua fenícia, era povoação. Quanto às Cortes, na freguesia de Leiria, referia-se a um local de encontro entre os habitantes e os chefes tribais, para que estes dessem a conhecer as suas leis e, assim, estabelecerem um contrato (kort) com o povo. Já o nome Aljubarrota podia ter vários significados. Para Moisés Espírito Santo, o mais vulgar devia ser halsu barot, traduzido por “fortaleza de víveres”. Especialista em Sociologia Rural, com um doutoramento na Sorbonne, em Paris, o autor de Cinco mil anos de cultura a Oeste conta que a lenda da Padeira de Aljubarrota “resultou duma estória, em fenício, de sete ladrões ou soldados salteadores de celeiros apanhados pela proprietária”. Esta lenda, extraída do topónimo halsu barot, colide, assim, com a ideologia anti-castelhana, que atribui a façanha a uma padeira que venceu sete soldados dentro de um forno. Também a gíria dos mareantes remete para os tempos da identidade marinheira dos fenícios. O único professor catedrático português em Sociologia das Religiões aponta dezenas de exemplos, um dos quais, “andar à gandaia (gan day)”, significa “mandriar, levar a vida sem trabalhar”. Mas há mais: “matulão” é “homem forte ou entroncado”, “passar à peluda” é “passar à disponibilidade, acabar a tropa”, “oficial magala” é “oficial do exército”, “paleio” significa “muitas palavras para dizer pouco, aldrabice”, entre outros termos. Esta linguagem classifica-se de “gíria dos marujos” pelo facto de ter sido recolhida oralmente pelos marinheiros. “São vestígios da (ou duma) antiga língua da Lusitânia”, anota o historiador.

Mito da fundação

O objectivo, escreve no capítulo final do livro, é “ultrapassar as ideologias, as alienações, as manipulações, os nacionalismos, os localismos, o saber popular, o dogmatismo erudito, o seguidismo religioso, o consensualismo académico e, sobretudo, a ignorância ou a insciência”. Por isso combate o mito da fundação, em que os chefes e os reis de Portugal eram divinizados. Moisés Espírito Santo sustenta que a sua função era “desvalorizar as capacidades criativas das populações e de engendrar nelas reflexos de vassalagem, de dependência e de subserviência”. O que justifica, acrescenta o investigador, “a escravatura e as prepotências dos caudilhos ou caciques que, no meio rural, foram uma constante até ao século XX”.

É a contrariar esse mito que Moisés Espírito Santo classifica os frades cisterciences de Alcobaça de “colonizadores e ocupantes” e que São Bernardo, tido como “herói civilizador”, ou os abades do mosteiro, enquanto “povoadores das aldeias”, não passam de “estereótipos de origem senhorial e clerical”. “Imaginar monges, na Idade Média, a ensinar o trabalho da terra aos camponeses de Portugal é um absurdo histórico, económico, sociológico e teológico”, argumenta. E recorda que a Regra dos beneditinos e cistercienses, que são ordens contemplativas, não permitia a permanência dos frades fora do mosteiro, nem os horários monacais se coadunavam com os trabalhos agrícolas. Vestígios de trabalho agrícola naquele concelho existem desde o Neolítico. Moisés Espírito Santo recorda o arqueólogo Manuel Vieira da Natividade que investigou, em 1889, no Vale do Mogo (Aljubarrota), as célebres Grutas de Alcobaça, onde recenceou um vasto espólio de material agrícola em sílex. Ainda no domínio da agricultura, existem em vários pontos do distrito silos escavados em rochas que serviram de armazenamento de cereais aos povos pré-românicos que habitavam a região. Por exemplo, o silo de Alqueidão da Castanheira está a dois quilómetros do que foi o porto lusitano fenício-púnico de Cós, perto de Alcobaça. Segundo o referido etnólogo, há três ou quatro mil anos, o viajante que deixava o porto de Cós em direcção do santuário megalítico do Resoneiro e de Aljubarrota, a primeira povoação de agricultores que avistava, na encosta virada para poente, era precisamente Alqueidão da Castanheira.

Identidade ancestral

A escola, refere Moisés Espírito Santo, também pode “obstruir a memória colectiva e a identidade ancestral, e alienar com vista à afirmação do poder dos letrados sobre os iletrados”. A civilização moderna, na sua opinião, também “tem um efeito destruidor das identidades aldeãs e da oralidade popular”, assim como a “extinção abrupta” da memória colectiva tradicional nos anos 60 do século XX. A este propósito, opina que “os naturais com menos de 50 anos já nada sabem dizer do passado da aldeia onde nasceram e vivem, por falta de transmissão geracional e por a identidade local ter sido abafada com clichés escolares estafados e uniformizantes”. Por isso, conclui, “os velhos vão-se calando, não por se terem esquecido, mas porque os seus saberes foram desclassificados”. Moisés Espírito Santo insurge-se contra “o apagamento da memória” quando diz que os historiadores e arqueólogos portugueses têm (ou tiveram) dificuldade em relacionar-se com as culturas da Península Ibérica que precederam a romanização. “Comprazem-se com a idelogia da ignorância: não querer saber, recusar-se a descobrir. Alguns até têm por alta ciência o escrever ou o ditar da cátedra um ‘não se sabe’. É a promoção da ignorância ao grau de sapiência”, sublinha. O que, na sua opinião, não acontece noutros países europeus que “apresentam os antepassados que se opuseram ao império romano como heróis, com direito a nomes de avenidas nas suas capitais”. Quanto aos portugueses, regista, “tentam limpar da história esses‘nacionalistas’”. O investigador associa esta tentativa do “apagamento da memória” à ousadia dos lusitanos face ao poder de Roma, pois, segundo Estrabão, autor clássico, a Lusitânia era habitada pela “mais poderosa nação da Ibéria”, a que “mais tempo (200 anos) deteve as armas romanas”. Eis a razão, sustenta Moisés Espírito Santo, “por que os romanistas lançaram esses ‘nacionalistas’ no limbo do esquecimento”. Sobre os vestígios da língua fenícia no português actual e “a falta de interesse” da Universidade pelo assunto, o autor de Cinco mil anos de cultura a Oeste aponta o dedo à Inquisição e à ideologia celtista (pangermanista) que, “em Portugal, desde o fim do século XIX, contaminou a História, a Arqueologia e a Linguística”. Mais: afirma que isso se deve ao “pavor de contrariar os mestres das academias que castravam as naturais capacidades dos seus alunos com o impossível descobrir”. E acrescenta, a essa causa, a “concepção medieval reinante de ‘ciência’ que, até aos anos 60, se pautava pelas mesmas regras que as clericaturas: obediência servil à autoridade infalível, bajulação da sua eminente superioridade e repetição da sua imutável doutrina”. Damião Leonel, Jornal de Leiria

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"A liberdade religiosa existe apenas enquanto não der nas vistas"

Moisés Espírito Santo é, certamente, o maior especialista português na área da Sociologia das Religiões. Formado em França, na prestigiada Sorbonne, foi até há pouco tempo professor catedrático na Universidade Nova, tendo-se jubilado recentemente. É mais uma figura nacional das Artes e das Letras que a UNISETI traz a Setúbal, em parceria com o Clube Setubalense e este jornal. Na tarde da passada quarta feira partilhou com uma audiência interessantíssima, que encheu por completo o Clube Setubalense, o seu saber e o seu olhar sobre a "cultura popular portuguesa".

«O Setubalense»: Como é que o Professor foi parar à Sociologia das Religiões? Moisés Espírito Santo: Foi através da Sociologia Rural, por influência dos emigrantes com quem trabalhava em França, na acção cultural, como funcionário do estado francês. Fiz uns estudos na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, na Sorbonne, na área da Sociologia Rural em Portugal, em 1976, e depois daí passei para a Sociologia das Religiões, uma vez que é na ruralidade que se entendem melhor as questões antropológicas da religião.

«O Set.»: Como vai o "estado da arte" em Portugal, nessa matéria? MES: A Sociologia das Religiões suscita muito interesse em Portugal, embora não mobilize muito os investigadores porque não é área muito rentável, por isso a investigação é feita de forma muito desinteressada, quase por carolice, mas no público em geral desperta muito interesse.

«O Set.»: Em tempos afirmou que "se deve pressupor que a liberdade religiosa em Portugal é relativa e que a igualdade dos cidadãos religiosos perante a Lei (garantida na Constituição) é meramente teórica." Em sua opinião, há ou não liberdade religiosa no país, hoje? MES: Eu continuo a dizer que a liberdade religiosa entre nós é muito relativa. As pessoas são livres de irem à missa ou ficarem na cama. No fim de contas a liberdade só se refere à prática ou não do catolicismo. Mas se forem a uma igreja outra que não a católica, já são vistos de lado, marginalizados, suspeitos - em especial se fizerem proselitismo de outra igreja ou religião - por parte dos colegas e vizinhos. A liberdade existe enquanto não der nas vistas. Trinta anos depois do 25 de Abril, se uma nova igreja ou grupo começa a dar muito nas vistas os seus fiéis são perseguidos de muitas maneiras. Por exemplo, são recusados num concurso profissional, em favor de católicos ou até de ateus. É curioso que o ateísmo entre nós favorece mais do que a adesão a um grupo religioso minoritário. Mais vale passar por ateu do que assumir-se como protestante, evangélico ou islâmico.

«O Set.»: Aliás, ainda não há muito tempo uma secretária de Estado afirmou publicamente que Portugal era um país oficialmente católico… MES: Não foi só um lapsus linguae. A ignorância é tal neste país que as pessoas pensam que a igreja católica, por ser maioritária e tradicionalmente hegemónica, é a religião oficial do Estado. Vivemos num estado laico, mas vemos muitas vezes, nas escolas públicas, que se obrigam as crianças a participarem activamente em representações do Natal, por exemplo, mesmo quando essas crianças são de famílias cuja fé não lhes permite celebrar o Natal cristão. E se as crianças recusarem participar, por imposição dos pais, são castigadas e marginalizadas… Tal como ter um crucifixo numa sala de aulas, numa escola pública, onde há crianças de outras religiões, ou os presépios em escolas públicas superiores. No entanto não há nenhum ministro que diga que não se podem representar coisas religiosas nas escolas públicas. Considera-se normal que a religião católica tenha todos os poderes e os outros nada. O cidadão comum, como estava habituado a uma repressão fascista das religiões, então pensa que a marginalização é legítima. É como o racismo. Há quem pense que ser racista é ter uma atitude hitleriana para com quem é diferente, mas racismo é também a segregação no dia a dia. Isto tem a ver com a falta de experiência histórica da tolerância religiosa.

O Set.: estamos a fazer esta entrevista a dois dias do funeral do Papa João Paulo II. Que balanço faz deste papado? MES: Depende. Teve êxito enquanto expôs a igreja católica, enquanto líder mundial das religiões, fazendo-se convidar e correndo o mundo, muito no meio do povo, visitando os santuários locais. É um êxito diplomático, mediático, que me fez lembrar o fenómeno da Princesa Diana. É um efeito de massas. Neste momento as pessoas já estão a venerar o cadáver do Papa como se fosse o Deus deles. Do ponto de vista da teologia católica continua tudo na mesma, com as mesmas contestações: a discriminação dos sexos na vida da igreja, o combate ao preservativo, a condenação de todas as fórmulas familiares que não a família patriarcal tradicional, a moral sexual, a aproximação às outras confissões. E do ponto de vista da adesão à fé católica isto também não trouxe nenhum proveito. A meu ver, este Papa fez mais mal do que bem à sua religião. Simplesmente deu-lhe visibilidade, e por isso as pessoas entendem que o catolicismo ficou favorecido, mas não ficou.

O Set.: Que onde acha que virá o próximo Papa? MES: Já em tempos me entrevistaram na BBC e noutros sítios e colocaram essa questão. Continuo a pensar que será latino-americano porque aquela população se está a passar maioritariamente para os evangélicos. Não têm grande teologia, mas as pessoas aderem a outra coisa que seja cristão mas não católico, que lhes garanta solidariedade social, um clima de maior liberdade e uma liturgia que não se coaduna com a rigidez da igreja católica. O grande alfobre de catolicismo no mundo já não é a Europa mas a América Latina, e eles necessitam de recuperar o terreno que têm vindo a perder e assim poderiam provocar impacto também na América do Norte.

O Set.: Pensa que os Portugueses são coerentes entre a sua afirmação identitária tradicional de fé e a sua praxis? MES: Entre os católicos, em todo o mundo, só 15 a 20 por cento é que praticam a sua religião, e em Portugal, 60 a 70 por cento dizem-se católicos, mas destes, só 15 por cento é que praticam (15 por cento nas aldeias, e 10 nas cidades)… É uma incoerência, as pessoas não sabem o que é ser católico, que isso implica a prática dos sete sacramentos, o casamento indissolúvel. Na prática não são católicos. (Em «O Setubalense».)


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