Ruddy Pinho
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A cabeleireira, atriz e escritora Ruddy Pinho está na profissão que prefere exercer (cabeleireira) há mais 35 anos. Começou em Belo Horizonte e veio para o Rio de Janeiro em 1969. Há 15 anos tem seu próprio salão, em Ipanema. Transexual, chegou um dia a revelar que desde a infância em Minas Gerais sagia como menina, mas não pôde se expor logo no início porque durante a ditadura era muito perigoso sair na rua maquiada ou vestida de mulher. Fez a cirurgia em 1989 na Suécia. Na época já existia a parte de construção do clitóris e o resultado Ruddy diz ter ficado muito bom. "Fiquei bem satisfeita. Assim como qualquer mulher, às vezes tenho orgasmo e às vezes não. O prazer depende de um todo, de estar com a pessoa certa." Ruddy é casada e tem um filho adotivo adulto. Rudddy declarou certa vez: "Causo impacto porque as pessoas acham que todo mundo tem de ser igualzinho. Isso não me afeta. Antes de mudar de sexo, me vestia de mulher e era tudo divertido. Depois da operação, alguns até romperam comigo. O que me dá segurança é a religiosidade, a perseverança e a dignidade do meu ofício. Fiz plástica. Estou numa fase de grande amor por mim mesma. Me sinto maravilhosa.”
Mas a veia artística de Ruddy não se restringe aos visuais de atores e atrizes. Trabalhou como atriz em três filmes e várias peças. O último filme foi “Navalha na Carne”, de Neville de Almeida, com Vera Fischer. O trabalho no teatro, ajudando também a compor o estilo de personagens, começou em 1963, com Dulcina de Moraes, no espetáculo “Mulheres”, ainda em Minas Geras. Em 1965, já estava no Rio de Janeiro, criando o estilo de Marília Pêra para “Onde Canta o Sabiá”. Estreou na TV nos anos 1970, criando o visual de Susana Vieira para “Pigmaleão 70”. Trabalhou diversas vezes com Yoná Magalhães e fez a cabeça de muitas cantoras - muitas capas de disco levam seu toque. “Fiz aquele visual leonino da Simone. Antes ela usava um cabelo curto, quase inexpressivo. Hoje pode até ser um corte demodé mas foi marcante e ajudou a definir a personalidade artística dela”, afirmou uma vez.
Quando Rachel Welch veio ao Brasil, para uma temporada na boate Vivará, Ruddy deixou seus cabelos curtos. Rachel se apaixonou pela “boa mão” de Ruddy e a convidou, nos quatro anos seguintes, para ir à [[Nova York] cortar suas madeixas. Pelas mãos de Ruddy, outras estrelas internacionais também já passaram: Gina Lollobrigida e Claudia Cardinale, que usou um corte seu no filme “Uma rosa para todos”. Ruddy contribuiu para o cinema brasileiro fazendo os cabelos de Odete Lara (“Mulheres e Milhões” - de 1965) e Marília Pêra (“Pixote”).
Foi contratada da TV Globo durante quatro anos para atender a extinta linha de show. Sempre foi parceira de Ana Maria Magalhães, diretora de arte do referido canal de TV. Quando é convidada a trabalhar numa composição, lê a sinopse, mergulha com a atriz ou com o diretor no personagem, como se fosse interpretar. Prepara-se para as reviravoltas do personagem, já prevendo as alterações no corte e na cor. “Em novela, elas sempre são ricas e depois pobres ou vice-versa, por isso oriento até a manutenção do corte já pensando nas mudanças”, declarou ela certa vez.
Desde o começo de sua atuação na TV, tem feito todos os personagens de Susana e considera um marco a composição para “A Sucessora”, onde fez um trabalho intenso de pesquisa. Sua relação com as atrizes acaba se aprofundando e hoje ela é grande amiga de Susana e Yoná, mas confessa que não sabe cuidar de seus cabelos sem pensar nos próximos personagens. “Mesmo com as clientes que não são atrizes, pergunto que personagem querem encarnar para saber o que fazer”, afimou em entrevista. Apesar de trabalhar em muitas produções teatrais, Ruddy reclama que na maioria da vezes é em troca de apoio. “Os orçamentos estão cada vez mais enxutos e não prevêem verba para cabelereiro e maquiador. Isso só acontece no Brasil”, disse certa vez.
Em sua autobiografia intitulada "Liberdade ainda que profana", conta histórias de vida, revelando bastidores da cena carioca e nacional. A infância em Sabinópolis, os casamentos, o transexualidade, a Zona Boêmia de Belo Horizonte, o envolvimento com drogas e prostituição, as viagens a Paris, Nova York e Istambul, as tentativas de suicídio. Tudo narrado com detalhes, bom humor e emoção. Alguns dos personagens famosos que desfilam nas páginas do livro: Raul Seixas, Salvador Dalí, Sophia Loren, Ângela Diniz, Elis Regina, Simone, Carmem Miranda, Maria Bethânia, Guilherme Araújo, Suzana Vieira, Gina Lollobrigida, Jacqueline Bisset, Xuxa, Glória Perez, Cauby Peixoto, Danuza Leão, Ney Matogrosso, Scyla Médici, Odete Lara, Vera Fischer, Darlene Glória, entre outros.
Ruddy chegou uma vez a afirmar que é contra pessoas que renegam o passado e que limitam direitos básicos a vários seres humanos talentosos e dignos. A trajetória da cabeleireira, repleta de aventuras e detalhes curiosos, serve a outros tantos que, como ela, foram vítimas de toda espécie de preconceito. Em sua biografia, "Liberdade ainda que profana", ela trata muitas vezes de uma vida cheia de altos e baixos, mostrando sua convivência com famosos, ao mesmo tempo em que, internamente, vivia o conflito da sua sexualidade e desejos. Um caminho que ela definiu como difícil mas também cheio de glórias, marcado por amor, lutas, sofrimentos e glamur.
