Tropicália
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A Tropicália, Tropicalismo ou Movimento tropicalista foi um movimento cultural que nasceu sob a influência das correntes de vanguarda artísticas e da cultura pop nacionais e estrangeiras (como o pop-rock e a poesia concreta) e mesclou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais. Tinha também objetivos sociais e políticos, mas principalmente comportamentais, que encontraram eco em boa parte da sociedade, sob o regime militar, no final da década de 1960. O movimento manifestou-se principalmente na música (cujos maiores representantes foram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes e Tom Zé) mas também ecoou em manifestações artísticas diversas, como as artes plásticas (destaque para a figura de Hélio Oiticica), o cinema (o movimento sofreu influências e influenciou o Cinema Novo de Gláuber Rocha) e o teatro brasileiro (sobretudo nas peças anárquicas de José Celso Martines Corrêa).
Um dos maiores exemplos do movimento tropicalista foi uma das músicas de Caetano, denominada exatamente de "Tropicália":
-
- "Sobre a cabeça, os aviões,
- sob os meus pés, os caminhões,
- Aponta contra os chapadões, meu nariz.
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- Eu organizo um movimento,
- Eu oriento o carnaval,
- Eu inauguro um monumento,
- No planalto central do país..."
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[editar] Origens
O movimento surge da união de uma série de artistas baianos, no contexto dos Festivais da Canção promovidos por redes como Record em São Paulo e Globo no Rio de Janeiro.
Um momento crucial para a definição da Tropicália foi o Festival da Record de 1967, no qual Caetano Veloso apresentou Alegria, Alegria e Gilberto Gil, junto dos Mutantes, Domingo no Parque. No ano seguinte, o festival foi integralmente considerado tropicalista (Tom Zé aí apresentou a música São São Paulo). No mesmo ano foi lançado o disco Tropicália ou panis et circensis, considerado quase como um manifesto do grupo.
[editar] Antecedentes e influências
Grande parte do ideário do movimento possui algum tipo de relação com as propostas que, durante as décadas de 1920 e 30, os artistas ligados ao Movimento antropofágico promoviam (como Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, entre outros): são especialmente coincidentes as propostas de digerir a cultura exportada pelas potências culturais (como a Europa e os EUA) e regurgitá-la após ela ser mesclada com a cultura popular e a identidade nacionais (que em ambos os momentos não estava definida, sendo que parte das duas propostas era justamente definir a cultura nacional como algo heterogêneo e repleto de diversidade, cuja identidade é marcada por uma não identidade mas ainda assim bastante rica).
A grande diferença entre as duas propostas (a antropofágica e a tropicalista) é que a primeira estava interessada na digestão da cultura erudita que estava sendo exportada, enquanto os tropicalistas incorporavam todo tipo de referencial estético, seja erudito ou popular (e eles introduzem uma questão nova: a cultura não necessariamente popular, mas pop). O movimento, neste sentido, foi bastante influenciado pela estética da pop art e reflete no Brasil algumas das discussões que os artistas pop (como Andy Warhol).
Ainda que tenha sido bastante influenciado por movimentos artísticos que costumam estar associados à idéia de vanguarda negativa, o Tropicalismo também manifestou-se como um desdobramento do Concretismo da década de 1950 (especialmente da Poesia concreta). A preocupação dos tropicalistas em tratar a poesia de suas canções como elemento plástico, criando jogos lingüísticos e brincadeiras com as palavras é um reflexo do Concretismo.
[editar] Críticas
Embora marcante, o Tropicalismo era visto por seus adversários como um movimento vago e sem comprometimento político, comum à época em que diversos artistas lançaram músicas abertamente críticas à ditadura. De fato, os artistas tropícalistas fazem questão de ressaltar que não estavam interessados em promover através de suas músicas referências temáticas a temas político-ideológicos: acreditavam que a experiência estética vale por si mesma e ela própria já é um instrumento de mudança social.
Durante a década de 1960, delinearam-se na música popular brasileira três grandes tendências: a primeira era composta por artistas que herdaram a experiência da Bossa Nova (ou seus próprios representantes), e compunham uma música que possuía relações com o samba e o jazz (grupo no qual pode-se inserir a figura de Chico Buarque); um segundo grupo reunido sob o título "Canção de Protesto", que em geral estava pouco interessado em discutir a música propriamente dita mas fazer da canção um instrumento de crítica política e social (neste grupo destaca-se a figura de Geraldo Vandré); e finalmente havia um terceiro grupo, especialmente dedicado a promover experimentações e inovações estéticas na música formado justamente pelos artistas tropicalistas.
Dado o caráter repressivo do período, a intelectualidade da época (e principalmente determinadas fatias da juventude universitária ligadas ao movimento estudantil) tendiam a rejeitar a proposta tropicalista, considerando seus representantes alienados. Apenas décadas mais tarde, quando o movimento já havia se esvaziado, ele passou a ser efetivamente compreendido e deixou de ser tão menosprezado.
[editar] Nomes ligados à Tropicália
Os principais representantes do movimento foram:
- Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee (o trio formava a banda conhecida como Os Mutantes)
- Caetano Veloso
- Capinan
- Gal Costa
- Gilberto Gil
- Guilherme Araújo
- Jorge Ben
- Jorge Mautner
- Júlio Medaglia
- Maria Bethânia
- Tom Zé
- Rogério Duprat
[editar] Referências
[editar] Artigos relacionados
- Música popular brasileira
- Poesia concreta
- Neoconcretismo
[editar] Páginas externas
- Tropicalia.com.br - em português
- Dossiê Especial 1: Tropicalismo - em português
- Enciclopédia brasileira de Artes - em português
- ArtesBR - em português
- A look at the Tropicália - em inglês
- Re-tropicalismo - em ingles e alemao
[editar] Bibliográficas
- BRITO, Antonio Carlos. Tropicalismo: sua estética, sua história. Vozes, São Paulo, n.9, 1972.
- DUNN, Christopher. Brutality Garden: Tropicália and the Emergence of a Brazilian Counterculture. Chapel Hill: UNC Press, 2001. ISBN 0807849766
- PAIANO, Enor; Tropicalismo: Bananas ao Vento no Coração do Brasil; São Paulo: Editora Scipione, 1996; ISBN 8526228579
- SANTAELLA, Lucia; Convergências: Poesia Concreta e Tropicalismo; São Paulo: Nobel; ISBN 8521303807
- MACIEL, Luiz Carlos; Geração em Transe: Memórias do Tempo Tropicalismo; São Paulo: Nova Fronteira; ISBN 8520907636
- VELOSO, Caetano; Verdade tropical; São Paulo: Companhia das Letras; ISBN 8571647127