Katherine Mansfield
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Katherine Mansfield, pseudônimo de Kathleen Mansfield Beauchamp (Wellington, Nova Zelândia; 14 de outubro de 1888 - Fontainebleau, França, 9 de janeiro de 1923) foi uma escritora neozelandesa.
Katherine Mansfield, nascida na Nova Zelândia, filha de pais ingleses e que abandonou o clima agradável, a vida abastada na bela ilha para entregar-se com paixão a seu intuito de tornar-se escritora, seguiu para Londres aos 20 anos com a ajuda paterna de 100 libras anuais. Contribuiu para jornais e revistas e iniciou uma vida social intensa. Em 1909 casou-se com um professor de canto para se separar dele após a noite de núpcias. O divórcio ocorre em 1918 quando se casa com J. M. Murry, jovem editor e ensaísta.
Poucas foram as traduções de sua obra no Brasil. A partir de 1992, a editora Revan começou a traduzi-las. Hoje, temos em português os principais dos 88 contos de Mansfield, incluindo Prelude (Prelúdio), At the bay (Na praia ) e The doll’s house (A casa de bonecas). Estes três contos fazem parte de uma novela inacabada. Demonstram a transição da obra de Katherine Mansfield para o romance. Os personagens, baseados na sua vida na terra natal, pedem mais que uma novela. Várias são as tramas e a saída só poderia ser encontrada na estrutura de um belo romance cuja semelhança poderíamos enxergar na obra de Virginia Woolf, no livro To the lighthouse (Passeio ao farol). O inverso também poderia ser dito, To the lighthouse possui a atmosfera de alguns contos de Mansfield. Elementos da natureza, a vida íntima de um casal e suas crianças são influências recíprocas entre autoras que tiveram contato intenso. No entanto, Katherine Mansfield nunca escreveu um romance.
Todos sabem da grandeza da obra de Virginia Woolf e esta reconhecia o talento de Mansfield, uma das mais promissoras escritoras daquela época e admirada pelo Clube 17, que foi uma espécie de sucessor ao Bloomsbury. Assim, ao lado de Virginia Woolf, T.S. Eliot, Ezra Pound, James Joyce e Marcel Proust é que era lida e comentada.
Desde 1915, os Woolf planejavam ter sua própria impressora. Alimentado o sonho, compraram em 1917 a máquina e a instalaram em Hogarth House. Seria a Hogarth Press. Através dela, publicaram seus próprios contos e, em seguida, Prelude, de Katherine Mansfield. Mais tarde, receberam a incumbência de editar Ulysses, de Joyce. Não puderam aceitar, pois a pequena Hoghart Press não possuía condições técnicas. Secretamente, Virginia só não se negou de pronto a publicar a grande obra de Joyce porque não saberia o que dizer. Reconhecia o talento do escritor, mas achava que sua obra era infame. Leve-se em conta a sensibilidade da romancista e uma identidade com Joyce que Quentin Bell define da seguinte forma: "Parecia-lhe ter uma espécie de beleza, mas também um brilho rude, arguto, de sala de fumantes. Joyce usava instrumentos parecidos com os dela, e isso era doloroso, pois era como se a pena, sua própria pena, tivesse sido arrancada de suas mãos e alguém rabiscasse com ela a palavra foda no assento do vaso sanitário. Também sentia que Joyce escrevia para um pequeno grupo…", e por aí vai.
Víctor ChabSe mergulhamos assim em Virginia é para mostrar que tipo de relação a autora de Orlando poderia manter com os seus pares. Com respeito a Mansfield, foram alimentados sempre os sentimentos de animosidade e admiração. Ao que parece, cotejando fragmentos dos diários das duas autoras, Woolf preocupou-se com e admirou Mansfield mais do que esta última o fez em relação a V.W.. Mansfield, à época em que se relacionaram, estava gravemente doente (aproximadamente, a partir de 1917). Woolf, como dizem em psiquiatria, estava compensada. Ou seja, as crises de loucura haviam se abrandado. Mansfield, por sua vez, preocupava-se com um jeito de curar-se da tuberculose e com a falta de Murry, que não foi um exemplo de marido. Ela só se queixou disso a ele quando lhe fez um poema onde desposava a Morte, pois esta não lhe abandonava nunca.
Murry foi incapaz de deixar seus compromissos como editor e acompanhar a esposa nas idas aos lugares mais salutares para seu estado. Analisando as cartas, pode-se supor que não se tratava de uma má pessoa, mas que talvez não agüentasse o sofrimento e nem tivesse grandeza suficiente para ser solidário. Assim, na maior parte do desenvolvimento da doença, Mansfield só não esteve totalmente sozinha porque sua amiga Ida Baker a acompanhou.
Alguns de seus contos são quase transcrições literais do diário que manteve. Um exemplo disso é o encontro com Francis Carco - com quem estava tendo uma aventura amorosa - em pleno front de guerra que está narrado em: An indiscret journey (Uma Viagem imprudente). Seu talento conseguia transformar realidade em ficção a ponto de tirar todo o realismo das cenas e dar um caráter de sonho ao que se passou. Este talento espargia-se tanto nos contos como nos diários e cartas. Também sua condição de inválida e a relação com o marido estão presentes no conto A man without a temperament (Um homem indiferente).
Víctor ChabPara não se entregar ao desespero, foi a Paris submeter-se a um tratamento à base de bombardeamento de raios X no baço com o Dr. Manoukhin. Não viu resultados. Como única alternativa para manter um fio de esperança, entregou-se ao guru Georgei Ivanovitch Gurdijeff. Internando-se em seu instituto (1922), a uma hora de Paris, seguiu sua filosofia como uma religiosa carmelita. Dedicou-se a estudar russo, além de ralar as mãos descascando legumes, sofrer com o frio estúpido e com as regras absurdas do lugar. Murry se separou de Mansfield nesse período, pois achou insano o seu gesto. Lá, apesar das humilhações, relatadas em Os Anos Loucos: Paris na década de 20 (William Wiser, José Olympio Editora, 3.ª edição,1995), que precisava sofrer para desprezar o corpo e elevar a alma, aparentava melhoras. Talvez isso se deva ao fato de que a solidão lhe foi abrandada pelo guru e seus amigos. Em 9 de janeiro de 1923, Murry a visita a pedido dela. Fica feliz em vê-la e reatam. Katherine Mansfield morre, neste mesmo dia, aos 34 anos.