Lenda da Fajã de São João
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A Lenda da Fajã de São João é uma lenda açoriana da ilha de São Jorge, arquipélago dos Açores que nos fala das vivencias do homem com uma terra ingrata e onde os vulcões são quem fala mais alto, trata-se de uma lenda que os povos garantem ser baseada em factos reais.
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[editar] Lenda
Conta esta lenda um acontecimento ocorrido no ano de 1757 na Fajã de São João. Nessa Fajã da costa da ilha de São Jorge vivia uma mulher pobre e humilde juntamente com a sua filha. Essa mulher era já bastante idosa e devido á sua simplicidade era gozada pelos vizinhos com frequência.
Nessa altura vivam-se tempos de dificuldade e o pão de milho era a base de alimentação das populações. O pão era cozido em todas as casas, quase sempre aos sábados da parte da manhã. Depois, á tarde, limpava-se, enfeitava-se a casa com flores nascidas nos pequenos jardins das moradias até que tudo fica-se pronto para o domingo, dia de descanso.
Estava a referida velhinha mais a sua filha nesses afazeres de por o lume ao forno para o aquecer e amassar a massa do pão, quando bateram á porta. Como não era costume receber visitas e tinha as mãos enfarinhadas, respondeu de onde estava que abrissem.
A velha porta de madeira gasta rodou sobre as dobradiças de ferro e na ombreira apareceu ema formosa senhora vestida de branco que a idosa não conhecia. No entanto e com boa educação disse: - Entrai, vinde para junto do meu lar, gosto de dar a todos do pouco que Deus me deu.
A senhora vestida de um branco imaculado deu apenas um passo casa dentro e respondeu á idosa: - “Não me posso demorar, ide dizer a toda a gente da fajã que fuja deste lugar e vá para a serra antes de chagar a noite. Um caso estranho vai dar-se em breve”.
Da forma como entrara a senhora de branco voltou a sair fechado a portar atrás de si. Atónita com tão estranho acontecimento a idosa ficou apática durante algum tempo a pensar. Depois deixou o seu trabalho para fazer o que lhe fora dito. O lume lentamente apagou-se no forno e o pão ficou por acabar de amassar na selha.
Foi de porta em porta, chamando as pessoas e dizendo a todos que fugissem de suas casas e da fajã, porque ia dar-se um acontecimento terrível. As pessoas em vez de fazerem o que a idosa lhes disse puseram-se foi a gozar com ela e a dizer que ela devia estar demente e ninguém acreditou nela nem em tão estranha profecia.
A idosa no entanto não hesitou, acreditando piamente no que lhe dissera a senhora de branco, pôs-se imediatamente a caminho da serra acompanhada apenas pela filha que foi a única pessoa da família e da vizinhança que acreditou. Durante toda a longa caminhada a subir pelas estreitas veredas das arribas a velhota não deixou de pensar no estranho caso que se passava. Tinha acreditado na Senhora de Branco, mas não sabia o que se ia passar. Pensava também nas pessoas que, por serem incrédulas, tinham ficado em perigo na Fajã de São João.
Ao chegou ao cimo da serra ali se deixou ficar sentada mais a filha a aguardar a noite. Foi então que por volta da meia-noite a terra começou a tremer, o mar uivava ao longe com um som sinistro, bramia de encontro aos rochedos. Debaixo dos seus pés teve inicio um grande terramoto. As encostas das montanhas e das altas falésias desabavam. Rochas enormes rolavam para a fajã, indo umas parar ao mar, indo outras parar sobre as casas e os seus moradores. Derrubaram casas e destruíram os terrenos cultivados na sua passagem veloz. Ao longe ouvia-se os gritos das pessoas que se misturava com o bramir da terra, com o barulho das rochas e o vibrar do mar.
Quando pela manhã o Sol raiou e começou a iluminar as cercanias da Fajã de São João encontrou uma tremenda destruição. Assistiu ainda aos últimos gritos das pessoas que aos poucos se foram transformando em murmúrios até se extinguirem por completo.
Daí para a frente os poucos sobreviventes passaram a dizer que a velhinha tinha feito uma profecia porque tinha falado com a Virgem Santa Maria e que, por ter tido fé, se tinha salvo e á filha.
[editar] Música popular cantada a este acontecimento histórico.
- Em tempos que já lá vão
- uma pobre velha havia
- na Fajã de São João
- de quem o bom povo se ria.
-*-
- Um dia a pobre velhinha
- quando o seu pão fazia
- uma formosa senhora
- à sua porta batia.
-*-
- - Entre! - lhe disse a velhinha
- - venha junto do meu lar,
- do pouco que Deus me deu
- a todos gosto de dar.
-*-
- Mas a senhora lhe disse
- com voz doce de encantar
- - Vai dizer a toda a gente
- que fuja deste lugar.
-*-
- Que caso estranho e terrível
- muito em breve se irá dar
- que fugissem para a serra
- antes da noite chegar.
-*-
- E logo a velhinha foi
- de casa em casa a chamar,
- dizendo a todos que deixassem
- a sua casa, o seu lar.
-*-
- Muita gente zombou
- do que a velhinha dizia,
- ninguém quis acreditar
- em tão triste profecia.
-*-
- Com uma filha que tinha
- pôs-se a velha a caminhar
- para o mais alto da serra
- no triste caso a cismar.
-*-
- Nessa noite, à meia-noite
- pôs-se a terra a baloiçar
- houve um grande terramoto
- uivava sinistro o mar.
-*-
- E ruíram com fulgor
- muitas rochas sobre o mar
- muitas casas desabaram,
- vibraram gritos no mar.
-*-
- Quando a manhã despontou,
- o sol pelo azul subia,
- muita gente que zombara
- na paz da morte dormia.
-*-
- E a velhinha que dissera
- atrás esta profecia,
- diz o povo que falara
- com a Virgem Santa Maria.
[editar] Lendas portuguesas
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