Mário Henrique Simonsen
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Mário Henrique Simonsen (Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 1935 — 9 de fevereiro de 1997) foi um economista, professor e banqueiro brasileiro.
Foi Ministro da Fazenda do Brasil durante o governo de Ernesto Geisel, entre 16 de março de 1974 e 15 de março de 1979.
Engenheiro civil formado pela antiga Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, destacou-se, porém, ao longo de sua carreira, como professor de economia da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) da Fundação Getúlio Vargas, a qual ajudou a fundar, a partir do Centro de Aperfeiçoamento de Economistas da mesma fundação. Assumiu diversos postos de destaque no governo federal, entre eles o de ministro da Fazenda no governo de Ernesto Geisel e o de Ministro do Planejamento no governo de João Batista Figueiredo (15 de março a 10 de agosto de 1979). Atuou também como sócio-consultor do banco de investimentos Banco Bozano, Simonsen e prestou consultoria para diversas empresas do setor financeiro nacional e internacional.
Simonsen foi professor da Fundação Getúlio Vargas, considerado brilhante por seus colegas. Suas aulas eram famosas pela baixa frequência de alunos, já que poucos conseguiam acompanhar seu ritmo de raciocínio. Um de seus alunos foi o banqueiro Daniel Valente Dantas.
Segundo suas próprias palavras, ficou rico por acaso quando o amigo de infância Julio Bozano o convidou para ser sócio minoritário no Banco Bozano, Simonsen.
[editar] Vida
Simonsen nasceu em família de classe média-alta da sociedade carioca. Filho de Mário Simonsen, advogado, que também exerceu atividades financeiras, e de Carmem Roxo Simonsen, descendente da família Belford Roxo. Devido às condições familiares favoráveis, Simonsen pôde desfrutar de boas escolas particulares do Rio de Janeiro, entre elas o Colégio Santo Inácio. Entretanto, Simonsen não se destacou apenas por freqüentar boas escolas, seu talento para o aprendizado sobressaiu desde criança. No ginásio, manifestou curiosidade extraordinária sobre os assuntos mais complexos. Durante a adolescência, distinguiu-se dos demais colegas pelas boas notas em matemática, e mais tarde, no decurso de sua carreira, pelo auto-didatismo.
Foi aluno do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva da Marinha no Rio de Janeiro (1955). Em 1959, casou-se com Iluska Simonsen com quem aprendeu a apreciar o jogo de xadrez, com quem teve três filhos. Seu sobrinho, Carlos Ivan Simonsen Leal, se tornou também economista.
Foi eleito economista do ano por duas vezes, em 1970 e 1995, prêmio concedido pela Ordem dos Economistas do Brasil.
Mário Henrique Simonsen dedicava-se também à música erudita, principalmente à ópera clássica. Seus conhecimentos na área formaram a base do capítulo de número cinco do livro “Ensaios Analíticos”, em que Simonsen discorre sobre vários assuntos de seu interesse ao longo da vida, tecendo considerações metodológicas acerca da economia.
Durante o Plebiscito de 1993 apoiou a monarquia parlamentarista, dando depoimento no horário eleitoral.
Algumas outras curiosidades sobre o economista são de que ele nunca tirou a carteira de habilitação de motorista e era conhecido por ter um apetite pantagruélico, assim como o de ser fumante inveterado (fumava, inclusive, dentro da sala de aula, o que naquele tempo não era tão condenável como nos dias de hoje). O fumo foi a causa provável do câncer pulmonar que o levou à morte no dia 9 de Fevereiro de 1997, pouco antes de completar 63 anos.
[editar] Carreira
Na linguagem comumente empregada atualmente, pode-se dizer que Simonsen era um estudioso da Macroeconomia. Em sua época de atuação profissional, muitas das preocupações envolviam temas como a inflação, nível de emprego e salários, contenção monetária, formação de expectativas dos agentes.
Alguns sustentam, portanto, que Simonsen fora um dos principais nomes da corrente Monetarista de Milton Friedman no Brasil. No entanto, a comparação reduz o raciocínio monetário de Simonsen, que pode ser conferido em sua tese de Doutoramento: Inflação: Gradualismo x Tratamento de Choque. Em seus escritos, Simonsen defendia sim o rigor monetário, mas o principal ponto que caracterizava os monetaristas, o controle do meio circulante de forma a doutrinar a formação de expectativas dos agentes, não era o ponto nevrálgico sustentado por Simonsen. Enquanto que o raciocínio dos monetaristas estabelece que os agentes tomam como principal informação para a formação de expectativas a emissão dos agregados monetários, em seus escritos Simonsen avocava que a formação de expectativas poderia se dar por uma série de outros motivos. À frente de seu tempo, o economista brasileiro identificou as causas institucionais para a formação de expectativas inflacionárias no Brasil: a correção salarial implantada em 1964 com o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG) e a correção monetária presentes em diversos títulos financeiros nas décadas de 80 e 90 até os dias do controle do Plano Real. Simonsen foi um dos pioneiros na investigação do fenômeno que ele próprio denominava por realimentação inflacionária e o qual se convencionou chamar depois de inércia inflacionária (também merecem menção pela identificação do fenômeno, muitos dos economistas que estudavam as causas da inflação no Brasil e que atuaram no Plano Cruzado: Bresser Pereira, Francisco Lopes, Pérsio Arida e André Lara Resende. Entretanto, Simonsen não abandonava a necessidade de também se corrigir a inflação por meio do controle fiscal e monetário. Dizia que o controle da inflação sustentava-se nos três elementos: equilíbrio fiscal, políticas de renda e reformulação da moeda.
Em sua carreira acadêmica, destacou-se como teórico das expectativas racionais. O argumento de Simonsen baseava-se principalmente no ponto que sustentava uma inflação gerada por uma disputa onde cada agente tenta preservar o seu ganho real nos preços. A chamada estratégia maxmin. Tendo isso em consideração, pode-se afirmar que Simonsen era adepto do gradualismo macroeconômico, de maneira que se houvesse a opção de arrefecer a economia causando mínimas perdas, era seria a preferível. De todo modo, Simonsen identificava que em muitos casos era inevitável se fugir de uma política de rendas mais distributiva, controlando o jogo inflacionário através do alinhamento dos agentes com a política macroeconômica adotada pelo governo. As preocupações de Simonsen com a política salarial caminham ao lado dessas demais considerações. Simonsen também será lembrado por ter sido um dos pioneiros no que hoje é conhecido como problema do cash-in-advance, questões que, se bem consideradas, estavam todas interligadas ao ritmo de funcionamento da economia, à sua pulsação.
Além do lado acadêmico, destacava-se o lado do profissional prático do economista. No ínício de sua carreira foi convidado por Roberto Campos e Octávio Gouvêa Bulhões a fazer parte da empresa de consultoria de projetos Consultec. Lá destacou-se como excelente problem solver, vindo a ter atuação profissional de destaque, período importante para forjá-lo como economista.
Durante o Governo militar do general Emílio Garrastazu Médici, de 1969 a 1974, exerceu a presidência do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que visava a educação de adultos na época em que a taxa de analfabetismo da população brasileira trespassava 20%. O governo obteve algum sucesso com a política de inserção educacional de adultos para a leitura; muitos elogiavam o método baseado nos trabalhos do pedagogo Paulo Freire, e não faltaram recursos para o projeto. No entanto, a alfabetização de adultos é ponto de difícil correção e o sistema teve visível retrocesso nos anos 80. Em seus ensaios para jornais e revistas, Simonsen reservava espaço para dedicar-se ao problema educacional brasileiro, visto ainda hoje como um dos principais desafios para a promoção do desenvolvimento da força de trabalho brasileira.
O destaque desempenhado na presidência do Mobral e seu sucesso inicial foram um dos fatores que levaram o presidente Geisel a convidar Simonsen para assumir a pasta do Ministério da Fazenda, função que exerceu durante todo o mandato do então presidente. Destacando-se por apresentar nesse período a primeira (outubro de 1973) e segunda crise do petróleo (março de 1979, mês em que Simonsen completou o período de nomeação para o Ministério). Durante sua gestão, com João Paulo dos Reis Velloso no ministério do Planejamento, foi implementado o II PND - 'Plano Nacional de Desenvolvimento', o plano visava dar seguimento ao processo de industrialização brasileiro no período mundial conturbado dos anos 70. Nesse tempo, foi preciso administrar uma política de entrada de capitais para o Balanço de Pagamentos com os fins de promover o desenvolvimento industrial da indústria de base e possibilitar uma economia mais ampla e diversificada, estruturada para a dimensão do país. O Brasil contraiu dívidas financiadas pelo dinheiro dos petrodólares.
Em 1979, após a segunda crise, Simonsen assumiu o Ministério do Planejamento, já no governo do general Figueiredo. Pediu exoneração do cargo após cinco meses, em um período revolto e de estagnação que se iniciava na América Latina. O presidente do Banco Central norte-americano (Reserva Federal, FED), Paul Volcker, elevou a taxa de juros dos Estados Unidos, os empréstimos brasileiros atingiram proporções que levaram o Brasil recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) diversas vezes para tentar sanar o problema de insolvência, manejado pelo então Ministro da Fazenda Delfim Netto. Em meio a informações e comentários que especulavam sobre seus desentendimentos com Delfim, Simonsen pediu exoneração do cargo. Esse episódio está documentado e possui relato do próprio Delfim Netto no livro de Depoimentos ao CPDOC da Fundação Getúlio Vargas.
A posição de Simonsen no ministério ajuda a compreender sua atuação como economista, profissional e acadêmico. Barbosa (1997, p. 127):
- "A conclusão que se chega pela análise das principais contribuições acadêmicas de Simonsen é de que ele era um economista keynesiano. Em matéria de política econômica, qualquer análise de seu período como Ministro da Fazenda, no Governo Geisel, e como Ministro do Planejamento, no Governo Figueiredo, certamente mostrará que ele era um adepto da política de sintonia fina, e que ele preferia discricionarismo a regras, que também são duas características importantes de um economista keynesiano."
Além das atuações profissionais demonstradas, Simonsen era também conhecido por sua habilidade como professor, Barbosa ressalta (1997, p. 116):
- "A sua preocupação central como professor era a de equipar os alunos com instrumentos analíticos, que lhes permitissem formular de maneira rigorosa os problemas econômicos, para que as conclusões estivessem fundamentadas no rigor do método científico. (...) Embora respeitasse e conhecesse as diversas correntes, ou paradigmas, que existem na teoria econômica, a sua experiência como um economista não acadêmico que também era, levou-o a ser um intelectual pragmático, sem compromisso com nenhum radicalismo, mas certamente com uma posição bem definida no espectro da corrente dominante da teoria econômica moderna."
Ao lado de Eugênio Gudin, Simonsen é muito lembrado, também, por ser importante para a formação profissional e para o reconhecimento da ocupação de economista no Brasil. Incutiu na mentalidade dos economistas de sua geração, e de várias gerações posteriores, a consciência de que economia era uma carreira de mérito a ser seguida, antes disso, a formação de economista era vista como paralela às demais de maior destaque.
[editar] Bibliografia
- ALBERTI, Verena e SARMENTO, Carlos Educardo. “Mario Henrique Simonsen: um homem e seu tempo” Depoimentos ao CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002.
- ALBERTI, V.; SARMENTO, C. E e WERLANG, Sérgio Ribeiro. Organizadores. “Textos Escolhidos – Mário Henrique Simonsen”. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002.
- BARBOSA, Fernando de Holanda. “A Contribuição Acadêmica de Mario Henrique Simonsen” Rev. Bras. Econ., Jan./Mar, vol. 17, n. 1, p. 115-130. 1997.
- BOIANOVSKY, Mauro. Simonsen and the early history of the cash-in-advance approach. Anais do 27o Encontro Nacional de Economia, 1:603-613. Belém: ANPEC. 1999.
- CAMPOS, Roberto. “Mário Henrique Simonsen, um matemático humanista”. Rev. Brás. de Econ. Vol. 52(especial) p. 9-14.
- CYSNE, Rubens Penha. “Mario Henrique Simonsen”. Estud. av., Jan./Apr, vol.15, no.41, p.139-154. 2001.
- RAMALHO, Valdir. “Simonsen: pioneiro da visão inercial de inflação”. Rev. Bras. Econ., Jan./Mar, vol.57, no.1, p.223-238. ISSN 0034-7140. 2003.
- SANDRONI, Paulo. “Dicionário de Economia do século XXI”. Rio de Janeiro: Record, 2005.
- SIMONSEN, Mário H. “Ensaios Analíticos”. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1994.
- SIMONSEN, Mário H. “Brasil 2001”. APEC Editora AS. Rio de Janeiro, 5a. edição 1975 [1969].
Precedido por José Flávio Pécora |
Ministro da Fazenda do Brasil 1974 — 1979 |
Sucedido por Karlos Heinz Rischbieter |